segunda-feira, dezembro 24, 2012

Christmas Light's

Véspera de Natal.
A alegria era transbordante em todas as famílias que se encontravam às compras naquele dia, entoando pequenas canções de natal ou rindo das brincadeiras dos mais pequenos, maravilhados pelo tempo que se apresentava e chegavam as prendinhas.
O cheiro à folhagem seca e à terra molhada do Natal era contagiante devolvendo um aroma diferente aos narizes das pessoas repletos de cheiros desagradáveis das cidades. O Natal pautava sempre por ser uma época diferente das outras em que a solidariedade era maior, os cheiros mudavam e as pessoas sorriam mais, apesar de tudo aquilo que era a desgraça do país...
Todos os anos a árvore de Natal era copiosamente decorada e o presépio meticulosamente reposto e retirado da pequena prateleira da sala que guardava religiosamente as figuras centrais da igreja.
Fazia as últimas compras de Natal, lembrando-me quem é importante na minha vida, dirigindo-me depois à estação de caminhos-de-ferro. Tinha chegado, depois de quase duas horas de viagem, a rapariga dos cabelos castanhos.
Estava mais bonita neste Natal, ou então era característico do tempo eu achar isso, mas estava mais arranjada, com os lábios pintados e com outro brilho no olhar. No entanto, a magia continuava a ser a mesma que desde o primeiro dia soltava, com um olhar selvagem e um toque felino.
A viagem de carro foi rápida, transgredindo a estrada que se apresentava até minha casa sobre os paralelos e as pequenas lombas do caminho. Fazia lembrar outros passeios...
Chegámos a casa, e as apresentações fizeram-se e trocámos os presentes, mas não era igual, eu sentia que não era... e a vida seria diferente a partir daí. Embora tivesse ganho outras coisas...
- Que se passa?
A rapariga dos cabelos castanhos estava preocupada...
- A cadeira...
- A cadeira?
Silêncio.
- Não percebi...
- Está vazia...
De novo a ausência de som na sala ecoava como martelos gigantes...
- Desde Setembro que está vazia... Tu sabes que sim... Ele...
- Ele era o teu exemplo de vida, mas estava velhinho, tu sabes que era difícil...
- Mas custa...
Ela buscava as palavras. Um homem assim era bastante mais complicado...
- Era um bom homem... como tu!
- Eu sei...
- Então não lamentes, tem orgulho! Senta-te tu nessa cadeira e mostra que podes ser tão bom ou melhor que o teu exemplo!
- Tenho de o ser. Nem que seja porque tu mereces...



domingo, dezembro 16, 2012

Promises

Siena, 24 de Dezembro de 1998

Comecei por tirar o lenço de pano bordado pela minha avó do bolso, olhando-a de novo, procurando as palavras certas no horizonte.
Era véspera de Natal em Siena, e o ar estava afável, com um clima ligeiramente mais quente do que era esperado para a época, convidando as pessoas a ultimarem os preparativos para a ceia que ia decorrer mais tarde, quando o sol já se tiver posto para os lados de La Pieve. As pessoas corriam as ruas em busca dos últimos presentes, abrindo sorrisos, próprios da época que atravessavam, naquele clima tranquilo e de esperança.
No entanto, os bancos do jardim da Reggia di Caserta, património mundial declarado no ano antes pela UNESCO, pareciam ruir com tais frases, unidas como lanças afiadas ao coração, debatendo o muro de pedra que acabara de cair. Era preciso reconstrui-lo...
As lágrimas caiam pela face da rapariga dos cabelos castanhos, num oceano de incertezas. As mãos tremiam e pediam o conforto de outras mais fortes. E eu dei-lhe as minhas.
- Eu tenho medo.
A frase era cortante, o impulso e o desespero de quem está sozinho no meio de montanhas escuras da depressão, subindo passo a passo para um topo que julga existir mas que não vê há dias a fio. Era uma alpinista, escalando as mais dolorosas montanhas. Talvez a mais alta até ao momento.
Arranjei forças, olhei firme nos olhos dela, como pedras cintilantes, e disse:
- Vou estar aqui...
- Não posso... não sei o que te posso fazer... posso-te... magoar. Sempre preferi assim... Sem dramas, sem ninguém. Sozinha a conquistar o q se pode conquistar...
- Não.
Confesso que fui algo duro com ela. Talvez mais autoritário do que aquilo que alguma vez tinha sido naquela expressão. Mas eu não queria que ela o fizesse...
- Não posso...
- Magoar?
- Sim...
- Todos nós nos magoamos de vez em quando. Mas precisamos que alguém nos sare as feridas...
- Isso soa-me a usar-te... só porque passo a vida ferida.
Ela tinha medo. Medo de que a morte do pai, a única pessoa que a acompanhara estragasse tudo, porque sempre se revoltara contra a vida que levava, sozinha, enfrentando o mundo, sem o apoio de ninguém, tratando do pai, há anos internado no quarto 505 do hospital central...
Tinha medo de que eu tivesse de ouvir coisas que normalmente não diria, que não compreendesse ou fosse injusta comigo. Tinha medo que amar não chegasse, pois o amor era algo pouco usado na sua vida que se parecia mais com uma costela quebrada e que agora eu queria concertar. Revoltava-se com a vida que não conseguia ter, com o medo de chegar ao fim do mês sem pão na mesa e o orgulho não deixava que eu tomasse conta de muitas das suas despesas, que o meu trabalho poderiam pagar.
Não era um trabalho com um salário exorbitante, mas o trabalho de um técnico chegava para cobrir quem passava a vida a trabalhar dias a fio numa linha de produção...
Tomei então uma decisão. Não a deixaria voar, a rapariga dos cabelos castanhos...
- Isto... Isto soa-me a amor, se queres que seja sincero. Soa-me a querer esperar no quarto por ti todas as noites só para poder abraçar no fim do dia! Soa-me a querer estar contigo e prometo-te isso. Prometo-te que farei o possível para que sejas minimamente feliz!
- Tu não tens de...
- Tenho. Tenho de ser feliz.
- Mas podes ser sem mim! Eu não quero ser um estorvo na tua vida.
Certeza.
- Claro que posso...
Virou costas a chorar novamente e cruzou o pequeno lago. Assim seria mais fácil...
- Mas não faria sentido um motor sem as suas peças principais.
Ela parou, virou-se e finalmente olhou-me com outros olhos...
- É difícil ir a pé, quando temos um automóvel topo de gama...
E sorriu, ainda tristemente, completando:
- E se nos deixássemos de metáforas automobilísticas? Acho que um café no Plaza soava-me melhor.
- Só se deixares as lágrimas cá fora, porque eu gosto do café forte.
E deu-lhe a mão.

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Fire

Está morto.
Tiara olhou nos olhos dele, fulminantes:
- Porquê?
Gargalhadas. William, segundo de seu nome, rei da extensão norte do Reino de Frewsland, desbagava em tiros fulminantes, ataques de riso que ecoavam pela sala aterrorizando a violência que se processou no salão de sua majestade, momentos antes.
- Um traidor... - disse rindo-se uma vez mais. Focou os olhos em Tiara, a mulher que tinha casado e que hoje vestida uma túnica negra, prometida ao reino, filha de Klaus Wilshere, senhor do castelo de Shering, dono das mais altas propriedades do reino do Sul, Wallswaves, sobre o qual o corpo jazia no chão sangrento do castelo.
- Era meu pai, serviu-vos como ninguém! Era rei do Sul, Wallswaves, recordas-te? - perguntou, com olhar revoltante.
- Promessas quebradas! Onde estava ele quando a ponte de Thyron caiu? Onde estava ele e o seu exército de 40 mil homens? - insurgiu-se Walker, comandante do exército real e porta-estandarte máximo de Frewsland, ou simplesmente, o Norte.
Escorriam lágrimas de Tiara Wilshere. Injustiça! Era seu pai, seu mais amado pai. A quem a sua vida devia, que a ensinara a ser uma mulher. E como estaria a sua mãe Heither? Certamente derramando lágrimas como perdida num quarto do salão de Ermouth, capital do Sul.
- Ele não te apoiaria nessa guerra, tu sabias que...
- Se não é por mim, é contra mim! O Sul está em dívida com o Norte e começou a pagá-la com o sangue do seu Rei! Wallswaves deve lealdade a Frewsland e ao dono de Araugthin, o teu rei e senhor, William II que por direito e descendência de Albert, quarto de seu nome merece governar!
William, pensava agora nas consequências que o gesto podia catapultar. A revolta do Sul podia ser um tumulto, mas uma oportunidade para reunir as gentes dos dois reinos. Há muito que cobiçava o trono do Sul e a sua união poderiam defender melhor o Império contra as forças de Guillerme, o reino do Além-Mar, ou Intocável como se auto-intitulava.
- Sabeis o que vai acontecer?
- Estou certo disso. E preciso de saber se defendes a tua lealdade para comigo ou serás fiel ao teu pai e ao reino do Sul?
Certamente mandaria mata-la se não jurasse lealdade ao seu rei, ao homem que fora obrigada a casar. Se fugisse até ao limite do reino do Norte teria de passar por demasiadas cidades e sabia que não conseguiria escapar às garras do rei. Esperaria que o jovem irmão de 19 anos, Robert assumi-se o cargo de liderar as tropas e uma vez conseguido um milagre de chegar a Araugthin a libertasse. Teria de rezar aos deuses a missão impossível...
- Sim meu rei. Sou te leal como promessa do nosso casamento que unimos e assumo a traição de meu pai, Klaus, que nada merece de vós. Porém aviso-o que as gentes do Sul fervem rápido, e já estarão organizadas, mesmo que em menor número para resgatar o rei. Sabendo agora que depois de semanas preso foi morto, terá de enfrentar a sua raiva...
- Estou consciente disso. É bom que o sejas! E o teu irmão, esse bastardo que chamam Robert, o Prometido, se se insurgir contra mim terá o destino do seu pai!
- Sim, vossa majestade.
O silêncio ecoou no salão e a corte esperou uma última palavra do Rei...
- Reuni o exército por precaução. Poderemos ser atacados. Avisai as cidades mais a Sul para se prepararem Walker! E vós Padre...
Irrompeu no salão como uma flecha um homem pequeno, correndo rapidamente e ajoelhando-se aos pés do rei soltou:
- Majestade, um grande mal disparou sobre nós!
- O que se passa Ryan?
- Queensland...
- O que se passa em Queensland? - insurgiu-se William.
- Foi tomada. Por Robert... num par de horas.
Ajoelhando-se perante os restantes, brandiu a espada ao alto e disse:
- Começou. Seremos fortes e vitoriosos. A Frewsland!!!! Ao Norte!!!!
- Ao Norte!!!!
Sangue.

quinta-feira, dezembro 13, 2012

Run

"...I'll be right beside you dear"

Receio. 
Jogamos um jogo perigoso, onde o medo por vezes fala mais alto e impede-nos tantas vezes de ir mais além e de conseguir o que queremos. Jogamos um jogo onde o medo é mais forte muitas vezes e somos cobardes o suficiente para não o enfrentar, ou então simplesmente somos inteligentes. O medo pode ser bom.

Nem sempre foi fácil contar a história da minha vida, não que tenha uma vida demasiado complicada, não que os meus país não me dessem tudo o que é preciso para viver e sobretudo para ser um homem justo e o mais perfeito possível. Acredita, eu tento ser perfeito e decidir bem, mas nem sempre somos assim tão bons. É a natureza humana, infelizmente.
E tantas vezes temos medo de magoar uma pessoa porque fomos magoados no passado, tantas vezes que nos importamos com alguém que não foi capaz de retribuir o que éramos para ela. E isso faz com que tenhamos medo de assumir o que sentimos, medo de ir mais longe com alguém, ou na própria vida, nos projectos. 

Tempo.
Pode ser um factor decisivo, mas sobretudo que funcione para solidificar algo ou para levar algo. A solidez nem sempre é boa, mas pelo menos traz-nos segurança. E eu preciso de afirmação, de jogo, de perceber a psicologia do próprio jogo que estou a jogar, como um verdadeiro profissional que mexe cada peça de xadrez pensando na maneira, como 7 jogadas depois vai efectuar um xeque-mate. É a lei da vida, mas também é amor, amizade, intenção, preocupação.

Certeza!
Sim, o tempo passou, e descobri da maneira mais estúpida, mas não menos verdadeira que podia voltar a querer alguém bem, alguém diferente do que conheci, que me ensine um caminho e que se preocupe. 
Estou seguro disto, eu preciso de soltar-me sem medos, antes que seja tarde.
Eu preciso de sentir mais perto que conquistei, sentir que sou finalmente melhor, sentir que tenho o que mais quero na vida. 

E acredita, não é nada material.
Demasiado emocional? Demasiado sentimental?
Não! Só diferente. 

domingo, novembro 25, 2012

Veneza, 7 de Novembro de 1987

Era ela.
De costas para a ria, arcadas subidas, ela deslizava os olhos sobres os barcos que passeavam, ora para sul, ora para norte, na cidade sobre o mar e a ria. Veneza de seu nome, terra de gentes burguesas onde outrora vira passar reis e rainhas, príncipes e princesas, imperava sobre as cúpulas das suas igrejas e basílicas ficando a imponência do homem sobre a natureza, construindo na água aquilo que era impensável.
Enganara-me várias vezes no seu nome, em episódios já relatados aqui, e vulgarizava-a, pensava que tinha partido para nunca mais voltar. Esse nome baila nos olhos dela e nos meus lábios.
O céu dera sinais de querer rebentar sobre águas, mas por enquanto era o sol que imperava naquelas margens, como um disco de ouro sobre o fundo de prata, reluzindo intensamente sobre as águas da cidade flutuante.
Timidez.
Sempre fora um ponto que não jogava a meu favor, mas aquele rosto algo familiar, resplandecia sobre o silêncio do lago e eu, mais certo das intenções que me julgavam, avancei em tom familiar e honesto, sem esquecer a educação:
- Eu conheço-a?
Bem, o rosto que se formou era diferente. Não interessava a voz rouca, a timidez do olhar, nem nada de marcas fisicas. Via agora o rosto inteiro, sem nenhuma distorção na água ou qualquer outra coisa que me impedisse de conhecer a real beleza da rapariga dos cabelos castanhos.
Mais uma vez, era ela. Ela que se cruzava comigo naquelas águas depois de tanto tempo sem falar dela, e que volta hoje como única e característica, diferente mas igual a ela própria. E sim, o sorriso era tudo.
Nada mais interessava agora, apenas...
- Hum, não me é estranho. Parece que já o vi por aí.
Talvez não se lembrasse, mas não a podia julgar. Eu já não me lembrava bem como era ela ou como era sentir o traços dela.
- Eu achei algo de singular em si e familiar. Não leve a mal a indelicadeza...
Os olhos bailavam como os das crianças quando queriam uma guloseima, fortes e firmes sobre os meus.
- A mal? Não! Não é todos os dias que se é bem tratado por um desconhecido.
E sorriu. Pisquei o olho, mais confiante e disse:
- E se eu a convidasse para um café? Afinal não é todos os dias que se vê um sorriso destes...
O sorriso abriu-se, e o arrepio nos dois foi verificado com uma certa incerteza da conversa, mas ambos sabiam o que podia resultar dali, como velhos conhecido, que já não se encontram há muito tempo.
- Vai pagar bem caro o elogio! Sabe que o café é bem mais caro aqui por Veneza?
Indecisão.
- Isso é um sim ou um não?
Voltou a sorrir.
- É bom deixar os homens na dúvida, mas é um sim! Estava com medo que não quisesse beber um café consigo?
- Não...
Mistério.
- Então?
Finalmente voltei ao sorriso, ao piscar de olho, muito mais confiante que aquele seria o primeiro café de muitos e voltei a carga:
- Tinha medo de não a ver sorrir mais vezes.

quinta-feira, novembro 15, 2012

A Brutalidade de uma insignificância - O.E. 2013

Insignificância é definida pelas quantias que o orçamento de estado corta em cada Instituição do Ensino Superior e Universidades do país, mas resume à brutalidade de tirar aquilo que mais queremos: o Ensino Superior Qualificado. Atiramos assim décadas de subidas em rankings educativos e agora caminhamos num sentido descendente sem que haja explicação plausível. O que é afinal este Orçamento de Estado de 2013 se não uma brutalidade para as famílias e em especial aos alunos do ensino superior?
A Brutalidade é isto: duzentas e tantas pessoas decidirem por tantos e tantos uma coisa impensável, segundo pressões da banca e alguns sectores onde foi gasta essa dívida excessiva e acumulada: mas afinal quem é que contraiu a dívida? 
A pergunta é sempre um pouco escondida da sociedade, encoberta com manipulações de notícias, geradas por grandes interesses económicos e para segurança de alguns indivíduos que se passeiam em altos carros e que cometeram crimes económicos e sociais que não são atribuidos nem julgados neste país.
O Instituto Politécnico de Coimbra viu reduzido em 36% o orçamento total desde 2010 para 2013, o que representa um corte brutal numa fatia que é quase como tirar o orçamento de 2 a 3 escolas do Instituto. Tem-se mantido calado, num sentido de gestão e até se vê um aumento no dinheiro atribuido de 2012 para 2013. No entanto, não sejamos enganados pela manipulação das notícias: o IPC tem de pagar mais de 3 milhões em taxas e atribuições obrigatórias o que gera um orçamento menor ainda do que o atribuído!
A Brutalidade é ao mesmo tempo uma insignificância no OE de 2013. Dá vontade de rir não dá? Pois, o estado procura sempre tirar aos sectores que sempre geriram a dívida correctamente, gerindo sempre o que lhes era atribuído, ao cabo que outros sectores da sociedade eram corrompidos de dívidas sobrepostas e alargadas.
É verdade e temos de admitir: a pressão da troika e da Alemanha são enormes.
Mas sejamos verdadeiros: estamos no topo de propinas da Europa, pagamos imenso para conseguir ter um curso superior, para ter um futuro e continuamos a viver num país que está constantemente a tirar-nos a educação.
É preciso lembrar as percentagens estipuladas de 40% de licenciados para 2020 e o que proporciona o processo de Bolonha. Afinal que caminho estamos a seguir se é exactamente o oposto ao qual nos propusemos? Afinal que futuro queremos ter se cortamos sempre na mesma coisa, se aumentamos já tanto e possivelmente iremos atingir o tecto máximo de propina (que será esse aumentado também!)?
É mais que tempo de fazermos pressão e dar-mos a conhecer à sociedade a imensa causa porque lutamos, onde estão envolvidos estudantes, docentes e não-docentes, onde todo um bloco de Escolas está à espera de um resultado positivo no OE 2013.
É preciso dar números às pessoas, dar sentido ao nosso protesto, lembrar ao Estado o que realmente nos tira e focar a atenção naquilo que verdadeiramente damos sentido nesta luta! 
É necessário lembrar que um aluno do Ensino Secundário, 2º e 3º ciclo é lhe atribuida uma verba mais que 2 vezes superior aquela que é atribuida a cada um de nós! É necessário perceber que os nossos gastos deviam ser imensamente maiores aos deles, quando são o contrário visto que necessitamos de muito mais para aprofundar o nosso estudo, a nossa investigação e sermos profissionais de excelência!
É a brutalidade das consequências através da insignificante quantia no peso dos gastos de 3 Milhões (no caso do IPC) que vai levar a mais abandono escolar, mais desistência, mais desmobilização e muito mais emigração.
Afinal que país andamos nós a construir?
Se uma hora era preciso chegar, esta é a ideal para lutar pelo que é nosso e pelo que tem de ser um direito neste país que firmemente se aguenta apesar de tudo o que tem de sofrer!
Sejamos estudantes, sejamos portugueses. Coimbra precisa!

P.S. : A Alemanha foi perdoada na sua dívida 3 vezes na história e no último século. Dá que pensar.

quarta-feira, novembro 14, 2012

Fulminante

Efémero.
Um dia escrevi uma pequena história de Carnaval fantasiado de cowboy, de pistola em riste, carregada desses pequenos estalinhos que tanto nos deixavam fascinados e nos faziam parecer verdadeiros pistoleiros de arma ao punho.
Fulminante é também a palavra que uso hoje para escrever a crónica com que hoje me deparo e me deixa profundamente em baixo. Fulminante é palavra de gentio quando se denomina um Enfarte Agudo do Miocárdio quando é feito de forma tão instantânea que nada vale a intervenção e a pouca probabilidade de ressurreição.
O choro hoje é convulsivo, faz lembrar outros dias em que as lágrimas derraparam, quando já não se aguenta a firmeza do gesto, o balançar das pernas, na certeza de que há um espaço vazio jamais preenchido na cabeça deles, na nossa cabeça. O espaço em que havia felicidade, frases compridas, palavras pequenas. Esse espaço já não o preenche.
E é tão estupidamente pequena a vida do ser humano que nos vangloriamos com o vestuário, exibimos e ostentamos as mais belas jóias e fios de ouro, colares de prata. Tentamos vestir o melhor algodão, o melhor linho, calçar a chuteira de marca, a bota da moda, embora mais dificilmente face à posição económica. Passamos a vida a tentar provar o que somos e a procurar felicidade no que compramos, mas não passamos de estúpidas máquinas programadas para durar no máximo uns 100 anos, com a ajuda da manutenção da farmácia ou os controlos hospitalares.
E o que sobra da nossa vida? Dinheiro?
Não.
Sobra-nos aquilo que devíamos procurar todos os dias: a alegria de viver e o amor que procuramos dar. E esse amor não é o que dás à tua namorada ou aos teus pais. É contar uma anedota a algum colega mais desanimado, sorrir à pessoa mais desamparada, estender a mão a quem não tem de comer ou a quem é desprezado dias a fio na rua.
Não precisas de muitas palavras, precisas de mais acções. Mas é difícil compreender e fazer isto, pois nós, máquina incompletamente acabada, tendemos a confundir tudo, a baralhar o jogo uma e outra vez e não entendemos que balançamos num carrossel da vida que nos levará apenas a um fim: a morte.
Por vezes é dificil dizer e transmitir o que se sente. Por vezes é dificil falar, ter tema para conversar. É dificil provar neste mundo. Estamos cheios de pessoas vazias, de mentes pequenas, de jogos comprados. Estamos rodeados de pequenas porções de tudo e grandes porções de nada. E não compreendemos.
Precisamos de ser felizes, provando-o e vivendo o dia-a-dia, construindo com alguém uma vida que mereça ser vivida até ao último cartucho.
Fulminante.

segunda-feira, novembro 12, 2012

Acredita

Organizam-se.
Em matilhas fechadas, como lobos receosos de caçadores, de espingardas apontadas e em riste, procuram por entre o arvoredo as coisas estranhas que nos dizem. (Eles sabem)
É hora.
Tempo de reinventar novas estratégias, de inovar novas plataformas, crescer com novas ideias sempre assentes na base da raiz que raramente te fala, a raiz que te alimenta no silêncio e te faz acreditar que ainda há tempo. (Eles dizem)
Procuro.
Ilusões, motivos, preocupações que me ocupem o tempo, me façam levantar do chão que caí, com as bofetadas que saíram da tua boca, uma e outra vez, como que de uma sova se tratasse e enchem as paredes da minha casa de dor, sangue e honra.
Descubro.
Mundos novos, sensações novas, dúvidas novas. Perder e ganhar, perceber e desentender, arrumar e espalhar. Pintar as paredes de casa com tinta nova, percorrer um a um os precipícios, derrubar as pedras necessárias, ordenar as casas, olhar o horizonte.
Isolo-me.
Procuro dentro de mim a força, retiro-me para o interior do ser, balançando a cabeça de ideias, enquanto penso no que posso ou não fazer e avalio-me, julgo-me e resguardo aquilo que de bom fiz para que possa ter a força de crescer.
Luto.
Saio. Pego na espada de osso e carne moldada ao meu corpo, falo, grito, esperneio mas não me fico. Em tempos de crise reergo-me as vezes necessárias para ser um homem bom, para lutar pelo que é meu, sobre todas as dúvidas, e todos os acontecimentos necessários para descobrir o lado bom, o lado que devia ser sempre o plausível sem medo de errar, pois a Luta e o Amor são iguais e por vezes se confundem, na adversidade das causas, na mesma forma indefinida de como começar e na incerteza de uma vitória.
Acredito.

sexta-feira, novembro 09, 2012

O Poço da Fome

Não acabou.
São mais de 10 mil olhares envergonhados, de um pão que não comeram, mais de 10 mil rostos que não vêm uma refeição quente em casa. Passam fome, dificuldades!
Mas onde?! Onde estão os direitos da criança, os direitos humanos, a vergonhosa política de cortes sobre o povo, quando continuamos com um dos maiores números de deputados por pessoa e que continuam a receber subsídios disto e daquilo.
É um país onde o privado é apoiado como o público, um país onde a vergonha de ver subsídios atribuidos a colégios e Ensinos Superiores Privados, onde estudam os filhos desses empresários e políticos, donos do nosso destino, quando a Universidade de Coimbra está em risco de derrapagem financeira devido aos cortes! 
O Estado não protege, o estado não se preocupa com as pessoas. O Estado preocupa-se em cortar no essencial e continuar a gastar no dispensável. Será que não conseguimos abrir os olhos? Será que não vamos sair para a rua? Onde estamos nós, fechados em casa?
Lembram-se d' "O povo unido jamais será vencido"? Pois continuamos vencidos, desagregados, sem espírito, sem organização. Pois quando o povo se organizar, o país é do povo, e tem a capacidade de decidir e mudar. Mudar em quê? É dificil mudar e encontrar um sistema diferente deste, mas o sistema político tem de ser limpo! Tem de ser banido qualquer cadáver e parasita que se alimenta do valor do Estado.
Meus senhores, as crianças passam fome, e só com a ajuda de cafés e cantinas públicas é que estamos a tentar ajudar, a tentar fazer alguma coisa. Crianças que passam fome! Mais de 10 mil. Mas alguém tem noção do número? 10 mil pessoas são mais que aquelas que vivem no concelho de Mortágua, quanto mais em idade de nutrição!
Mas para quando vamos sair deste buraco, ver uma luz ao fundo e abandonar velhos hábitos?
A emigração sobe exponencialmente, enquanto as exportações caiem. O desemprego sobe também como se nada fosse e as greves são uma constante. É preciso mudar, lutar, gritar na rua.
Caminhamos a passos largos para um estado de alerta social, uma sucessão de desacatos, uma situação quase incontrolável, onde tudo pode ser possivel, graças ao caos social para que somos arrastados.
É vergonhoso. Precisamos de encontrar a corda para subir... ou para nos enforcar-mos definitivamente como país morto e sem perspectivas. Sejamos Guerreiros!

quinta-feira, outubro 25, 2012

Viagem

Partiu a carruagem do vapor, lentamente sobre os carris percorrendo os primeiros metros do fim da estação, carregada de pessoas, sonhos e vontades, sorrindo sobre o vale resguardado das serras enquanto a penumbra se instalava por mais um túnel que o comboio trespassava.
Desenhavam-se agora encostas mais nítidas, cheias de arvoredo, casas pequenas enquadradas nos planaltos ou empoleiradas nas serras como se à beira da prancha de uma piscina prestes a cair sobre as águas que corriam nos pequenos riachos que banhavam a maresia de casas.
O xisto corria os olhos e já as pontes férreas, desenhadas por algum artista famoso, transformavam a vista também em profundidade, com novas perspectivas de contos de fada, de sinos a tocar, de novos mundos de nevoeiro. A mata era a jóia da coroa sobre o casario em redor, juntando alguns palácios e monumentos como imponentes castelos, guardando memórias e soldados que marchavam no silêncio onde só o barulho dos pássaros ecoava.
A pacatez era tal que nem as castas de vinho que circundam o comboio nos tiram o olhar da serra, como que numa atmosfera mágica, talvez porque Baco nos quisesse ali, apreciando o vinho.
Mas claro, a mudança era drástica, com máquinas férreas a grande velocidade, juntando duas linhas de movimento importante para uma economia, onde o barulho era maior das máquinas. Mas nem assim deixamos de ver a magia da mata, como que um sinal de que algo corria bem. A cidade aproximava-se a largos passos e o barulho das carruagens começava a fazer-se sentir.
Os sonhos soltaram-se mal se anunciou a estação de destino, a vitória final sobre a mesa, a glória de uma viagem sobre uma terra de magia, onde poucas coisas fazem sentido separadas, mas juntas ganham significado, criando a identidade de uma região.
É hora de mudar de comboio e ganhar um novo voo, rumo ao desconhecido, ao caos completo e jamais visto sobre o território que chamamos nosso.

sexta-feira, setembro 14, 2012

Electrocardiograma

Nem sempre temos tudo, nem nunca temos nada.
Temo-nos a nós pelo menos.


Naquele corropio de segunda-feira, a caixa do correio abriu-se com o peso que lá caia dentro, esborrachando-se no chão amolgada. O peso do livro era insuportável, tendo em conta a quantidade de letras e números que resumia, tão delicadamente, página a página, a vida de alguém.
"Pip...Pip...Pip"
Aperta a mão, agarrando-se ainda ao fio de vida que vai sugando, momento após momento, segundo após segundo, numa máquina indústrial em gestão e limpeza, alegando falta de lubrificação do motor ou anomalia nos travões.
O quarto veste-se de tons cinza, verdes escuros e pijamas às riscas, enquanto as janelas dão risadas de um último raio de sol que lá se dissolve no horizonte. O quarto com um numero qualquer no corredor daquele edificio murmura algo, como se eu soubesse o que dizem aquelas paredes. Porque eles não sabem o que dizem, mas entendem os sinais, os batimentos, a engrenagem, e injectam, mesmo sem saber, uma dose alta de lubrificação mal doseada.
"Fortaleza"
A voz exlcama uma melhora, o corpo exclama uma regressão. Quem fala melhor? Quem me convence com os seus argumentos?
Ninguém. A questão não se põe assim, mas ninguém quis colocá-la, ninguém quis sequer falar sobre nada que não fosse dor, que escorria incessantemente, pela cara a baixo, contornando os obstáculos maiores do corpo. Será que ele sabe?
Sabia. Sempre soube. Mas a força dos homens é a força que move o mundo, e firmemente se ia aguentar, descansando-os até ao último segundo, ao derradeiro parar da máquina, ao final do destino, até que todos os travões de emergência falhassem finalmente, podendo olhar o horizonte tranquilo.
"Coragem"
O que é? E depois?
Ninguém descreve, ninguém regressou. Apenas deixaram a palavra saudade no canto da boca de cada um, escrevendo o futuro com outros tons, mas não esquecendo que em plano de fundo sempre ficaram figuras que não podem ser pintadas.

"Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.................."

domingo, agosto 19, 2012

Des(ilusão)

Rasgou-se o teu pano vermelho
Sobre o lado amarelo, a roupa quente,
Os sapatos molhados,
De tempos ausentes,
Em noites perdidas e olhares afogados

Acreditar na prefeição
É abraçar a desilusão,
Desistir do medo, guardar o segredo
Aumentar a confusão e dar asas ao enredo
Que se desenrola na palma da mão.

As fatias de espuma que lanças
Sobre o frio dos dias de setembro,
É a mesma que deixas nas noites de agosto,
Um nome que não sei,
Um nome que não gosto.

Sofrer é terrível, mas necessário.

domingo, julho 22, 2012

Portela

Desce mais um avião no calar da noite sobre as suas grandes asas e as suas enormes luzes. O avião é um fragmento de memória aérea, um resto de esperança na aproximação dos países, como que um passaporte, um abrir fronteiras...
São 3 horas da madrugada e espero, ou melhor, desespero. O avião vindo de Milão está atrasado 2 horas e eu estou impaciente, olhando para as horas que marcam nos ecrãs luminosos entre os voos que estão a sair e os que chegam. O que vou dizer? O que posso esperar?
Olho em volta os passageiros no terminal: pessoas dos mais variados tipos, desde rastafaris, punks, senhoras do mais alto quilate (apenas pelos seus diamantes), chiques e de alto requinte com chapéuzinho ao alto, mas também pessoas engravatadas e casais com aspecto de turistas.
O voo 927 da AirItalia estava a poucos minutos de distância e eu ainda não sabia o que dizer, como reagir ao enorme vulcão em erupção que era ela. Tinha saído há já 5 horas de casa e metido na A1 para poder recebe-la e a espera era ainda maior...
Distraído como estava não reparei que indicavam a aterragem de um pequeno voo de Frankfurt indicando como primeira origem um dos aeroportos milaneses. A revista que folheava parecia interessante falando de descobertas cientificas nas áreas da medicina.
Foi aí que... a rapariga dos cabelos castanhos apareceu diante dos meus olhos.
- Então não me vais cumprimentar?
Estava ainda meio atordoado com aquela chegada repentina, de modo que me levantei e dirigi dois beijos no rosto.
- Como é que estás?
- Bem...
Mais uma vez ela respondia com o tom de mistério, o tom de que as coisas não estão bem, e eu sofro cá por dentro tentando perceber o que se passa. Sabia que estava magoada comigo, mas mais que magoada era um orgulho que escondia, uma teimosia. E saber que podiamos ser tão felizes se deixassemos esse orgulho de parte e nos quisessemos um ao outro...
- Sabes que...
- Daniel, agora não. Estamos cansados. Leva-me a casa.
- Sim, eu levo...
As vezes tinha esta tendência, tentando demonstrar a disponibilidade e a atenção que lhe dava... doía tanto não a poder abraçar e ter como quísesse. As coisas deveriam ser abertas, sem medos de assumir que gostavamos um do outro. Mas o meu receio a esta última frase remete-se às ultimas quatro palavras... será que gostamos?
O trânsito na A1 era reduzido, e a estrada estava livre. Chegado à Mealhada cortámos e saímos em direcção a casa. No entanto ...
- Podes cortar aí?
- Aqui?
- Sim. Leva-me à Cruz Alta.
O carro subiu a Serra do Buçaco num ápice, conhecendo cada recanto e cada curva, levando ao limite toda a potência. Estava no cimo da serra, no ponto mais alto, na cruz que orientava a nobre vila do Luso e o concelho da Mealhada. Tão perto do céu...
- Sabes...
- Daniel, desculpa. Eu às vezes digo coisas sem pensar e precipitei-me... sinto que podemos ser felizes, mas o meu medo, o meu passado falou mais alto. Tenho medo que não sejas o mesmo, que já não me dês atenção.
Tinha medo então, medo.
Eu dei-lhe a mão, e desmanchei a trança que trazia no cabelo. Contemplava agora a sua beleza natural, e o vulcão estava agora a derramar lava como nunca, libertando o peso daquele ser humano que eu ainda considerava extraordinário.
E aí disse-lhe tudo. Que precisava de ser mais frio para ela perceber, que precisava de assumir, de não ter medos, de estarmos juntos, de conquistar cada etapa.
- Eu estou aqui. Confia em mim.
- Tenho medo.
- Podemos ser felizes.
- Como nos livros?
- Sem fantasias. Sem floreados. Felizes.
E assim abracei a rapariga dos cabelos castanhos, contemplando o mundo, esse mundo que tinha outra vez nas mãos...

segunda-feira, julho 16, 2012

Rain Dance


Olhei para o céu hoje à noite e vi um lua grande e redonda, uma pérola perfeita nesse mar que é o céu. Ao redor da lua percorrendo todo o céu vi, lanternas em torno de barcos navegantes, a que os homens chamam estrelas. Algumas caiem durante a noite, como naufragos no mar e desaparecem, talvez por se dedicarem à pesca submarina.
Mas as estrelas que teimam em bailar nos seus olhos são outras, estrelas que nada têm de luz, nada têm de brilhante. Elas bailam e acabam por cair como essas estrelas cadentes, submissas a um destino. O destino, esse, é o pano cinzento, composto de prismas quadrangulares que chamamos chão. Derrama-se o rio sobre as rochas mais pequenas, queixa-se o mar das estrelas que cairam.
Na nascente orbitam, no chão de mármore, esferas de basalto e velhos pedaços de madeira, com folhas de plátano. No canto da nascente existem pequenas esferas que saem do plátano, cor torrada que deixam comixão na pele. Debaixo da nascente há plataformas que provocam um efeito de cascata, como que uma "cachoeira", onde se acumulam noites de luar, rios escondidos e pequenos caudais de água.
As noites estão maiores e a lua apenas soluça no seu movimento. O calor faz as estrelas encadearem sobre a superficie do mar e aterram algumas como naves espaciais, desfeitas pelo calor térmico da atmosfera. Nas nuvens, o racional contar das correntes marítimas, do ascender do ar quente e do controlo dos aguaceiros, discerne-se uma questão: o que provoca essa chuva incadescente de estrelas no meio da noite? Há algo no meio do mar remoto que nos indique a possibilidade de essas estrelas apenas nos iluminarem e apontarem um caminho?
O mar, revoltado e inconstante, não nos responde. Ele guarda o segredo do ser, aquilo que irracionalmente a atmosfera cria: a imprevisibilidade constante, o efeito borboleta das consequências pequenas se transformarem em catástrofes. Um novo Titanic, um novo iceberg, um navio sem fundo, o soltar das tábuas de uma arca de Nóe: o dilúvio.
Estudamos tudo dele. Condições do vento, tantas e tantas ondulações, pequenos remoínhos, mas esses estudos são inconclusivos como quem estuda uma esfera grande e não a pode conhecer por dentro, como que um núcleo maciço e rochoso se tratasse. Os geólogos apenas descrevem os fenómenos, e as placas tectónicas movem-se no fundo do mar. Fluído ou rochoso? Todos eles passam pelos dois estádios, mas destinguem-se consoante o tempo que passam em cada um.
É por isso que os oceanos não têm propriamente fronteiras, as camadas da terra distinguem-se por descontinuidades, sendo incerto cada ciência que estudamos, cada passo que damos.
O mar hoje está mais calmo... as estrelas brilham, e nada parece prever a catástrofe, mas nunca se sabe quando Neptuno resolve mexer no seu tridente e, no alto mar as correntes movem-se, os ventos sopram com força e de novo bailam as estrelas sobre a lua...
E aí, a rapariga dos cabelos castanhos fecha a porta, apaga a luz do quarto e deixa cair as estrelas sobre o chão.

sábado, junho 30, 2012

Insónia

Desculpa.
Mesmo sem culpa, peço desculpa.
Estás fria, sem alma.
Dizes que mudei, que não sou o mesmo.
Mas perco a calma,
Quando tu já não subrepões sobre a minha palma,
Qualquer resto de ti.

Tenho saudades de princesas,
Contos de histórias, resmas de reis,
Sapos doidos malucos,
Principes guerreiros astutos,
Blocos de notas, livros, papeis,
E barcos navegados por comandantes brutos.

Memórias invocadas,
Rias navegadas, no septo do coração,
Na crossa da aorta, na minha veia porta,
Já não sei onde anda a razão
Saudade, é bem escrita,
Numa pequena cabanita,
Junto à raiz do coração.

E eu mudei?
Talvez o tempo me desgastou,
Fez-me mais forte, mais racional,
Mas também te tornou emocional
Como um raio de chuva que não cai
Uma corrente que não vai,
E o vento que não levou,
Sinto-me perdido, caido,
O meu coração voou,
Mas a Saudade, ficou.

quarta-feira, junho 20, 2012

A Grandeza de sermos Pequenos: crónicas do Euro'12



17 de Julho de 2012. minuto 73. (2-1)
Um nome, um momento, o segundo golo de Cristiano Ronaldo fez-nos levantar em nossas casas, praças, cidades, loucos de alegria. Estava consumada uma reviravolta anunciada, sempre sofrida, bem ao jeito lusitano, mas merecidissima. Nessa noite já ninguém dormia na sala porque os Quartos eram nossos, e mandavamos de uma assentada Dinamarca e Holanda para fora do Euro. Ao mesmo tempo eliminar a selecção que ficou a nossa frente na fase de qualificação e a vice-campeã mundial é obra. Mas as vezes somos demasiado queixosos. Somos um país pequeno com prestações altissimas a nível futebolistico. É preciso recordar que sempre que fomos a fase final, passámos da fase de grupos do Europeu, e sim, nisso somos únicos, recentemente fugidos à Holanda que era a nossa acompanhante nesta façanha incrivel.
Ronaldo calou críticas, mas precisamos de recordar que não foi único. Houve um João Moutinho a tocar em todo o terreno uma orquestra que fez dos postes e de Stakelenburg (corrijam-me se estiver errado) um bombo lançando e bombardeando a sua baliza. Pepe continua, esse sim, gigante. É sem dúvida o melhor central do Euro, tirando tudo o que há para tirar e ainda criando situações de perigo iminentes, como a bola que esbarrou na barra da baliza germânica no jogo inaugural.
Críticas respondeu também Paulo Bento ou P.B., como gostam de adoptar agora nessa moda jornalistica de usar iniciais, talvez libertando um pouco a mente do que lhe vai na cabeça, e fazer perceber a união que existe e continuará a existir. Pena foi os jogadores recusarem-se a falar, embora com a sua razão na causa que defenderam, mas aposto que milhares de portugueses os queriam ouvir, a derramar palavras de felicidade sobre multidões que exultavam os heróis de Kharkiv.
Declarações bombásticas, e que embora não tenham sido ainda devidamente exploradas, são as de um tal de Platini, prevendo uma final "Alemanha-Espanha", ficando desiludido com a "Laranja" ter saído do Euro e ainda com pena dos dinamarqueses. De Portugal não falou ele, nem de outros países. Imparcialidade minima devia haver, mesmo claro, podendo torcer pela "sua" França, mas agora apoiar outras selecções?! Afinal a Uefa apoia elitismos? Há resultados feitos?
Pois, relacionado ou não com isso, estão vários casos, como beneficios à Polónia que pareceram evidentes, principalmente com os gregos, golos limpos anulados à Ucrânia frente a Inglaterra (o que fazem os árbitros de baliza?!) ou mesmo claros penalty's não assinalados a favor da Croácia contra a poderosa Espanha. Mereciam mais Ucrânia, Croácia e a própria Rússia, a maior surpresa da eliminação, pois foi bem mais afoita que a Holanda.

Com tudo isto restam-nos os Checos. O que esperar?
Um bom jogo, uma vitória em teoria (embora muito muito cuidadinho nas boas transições checas de Pilar e companhia), e nada de toques artisticos de Poborsky.

FORÇA PORTUGAL!!

terça-feira, junho 19, 2012

Saudade 2.1



Um dia a porta da rua abriu-se
A cidade despiu-se,
O reinado já quase acabou.

Os loucos advém e,
Batem à porta de quem,
A isto os levou.

Já nem o chicote os leva,
Já nem o bom senso os move
Quem a palavra é treva,
Num universo mais pobre.

O natural sentido da vida mundana,
A rotina incansável,
O rosto intocavél,
Na voz de porcelana.

Já não chama por mim à noite,
Já não diz que me ama,
A loucura em mim instalou-se
E a saudade complicou-se.

Há um vazio de ti,
Neste mar a dois,
Um toque de gelo,
A ponta de um icebergue,
Ao teu coração entregue,
Ao qual lanço sempre o meu apelo,
Mas nem responder a isso,
A tua saudade consegue.

Até saudade já faz a resposta torta,
O bater de uma porta,
Discutir a carne, o pão e o peixe,
Enquanto bebo mais um trago de vinho,
Vou correndo travar a porta...
Antes que ela se feche.

quinta-feira, março 22, 2012

A vida faz-se de sonhos...

Um dia lembro-me de escrever sobre uma tal "rapariga de cabelos castanhos", e imaginá-la como um sonho que passa rápido numa nuvem. Talvez mais ou menos à um ano, comecei a escrever aqui e numa rede social, crónicas dessa rapariga. Acreditem ou não eu encontrei-a.
Mas nem se quer é isto que me causa mais surpresa... A surpresa maior é elas serem tão parecidas. A rapariga dos cabelos castanhos não é apenas um produto dos meus sonhos, ou então a minha vida tornou-se nesse produto. A mesma cor, o mesmo tom de voz, a mesma comunicação, o sorriso e até a própria vida é idêntica às palavras que faziam esses textos. Ela é produto de mim, ou eu produto dela.
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O meu quarto está vazio, a mala ao canto, as prateleiras cobertas de apontamentos e livros sobre protecções, intensidades e fotografias escuras médicas. Procuro ajeitar a cama, arrumar as sapatilhas do jogo de futebol e escuto as conversas que vem da rua. No pensamento já está a viagem que faço hoje, procurando sair e exilar-me por algumas horas do mundo. É sexta-feira, e a rapariga de cabelos castanhos procura-me num ápice, desenhando histórias e escrevendo no meu mundo com cores de amarelo e azul, olhando o céu redondo no horizonte, onde o sol se despede com um "até já", prometendo um breve descanso à guarda da lua.
Olho em volta e vejo fotografias de tempos felizes, de olhares distantes e alegres, de pensamentos brilhantes sobre homens e mulheres que o tempo levou, ou por este motivo, ou por aquele... Sinto-a abraçar-se a mim e olhar para as molduras, dizendo-me qualquer coisa impreceptivel. Sei que não está bem, sei que lhe custa ainda ouvir os paços dele no soalho da casa, ou a voz rouca e grave com que lhe diria bom-dia. Mas no final de contas, ela fez aquilo que de mais correcto podia fazer, e eu orgulho-me disso.
Procuro-a na moldura e comento a doçura da sua figura de criança, do sorriso sincero e mimado que fazia. Ela escuta-me longe, procurando o presente e deixando o passado de parte. E aí, ela olha-me nos olhos, procura-me na voz e vivemos o presente, na prespectiva de um futuro, de um tempo melhor que nos faça levantar todos os dias com a força da alegria. E o meu olhar dissolve-se no dela, permanecendo como o universo. Eterno.