Olhei para o céu hoje à noite e vi um lua grande e redonda, uma pérola perfeita nesse mar que é o céu. Ao redor da lua percorrendo todo o céu vi, lanternas em torno de barcos navegantes, a que os homens chamam estrelas. Algumas caiem durante a noite, como naufragos no mar e desaparecem, talvez por se dedicarem à pesca submarina.
Mas as estrelas que teimam em bailar nos seus olhos são outras, estrelas que nada têm de luz, nada têm de brilhante. Elas bailam e acabam por cair como essas estrelas cadentes, submissas a um destino. O destino, esse, é o pano cinzento, composto de prismas quadrangulares que chamamos chão. Derrama-se o rio sobre as rochas mais pequenas, queixa-se o mar das estrelas que cairam. Na nascente orbitam, no chão de mármore, esferas de basalto e velhos pedaços de madeira, com folhas de plátano. No canto da nascente existem pequenas esferas que saem do plátano, cor torrada que deixam comixão na pele. Debaixo da nascente há plataformas que provocam um efeito de cascata, como que uma "cachoeira", onde se acumulam noites de luar, rios escondidos e pequenos caudais de água.
As noites estão maiores e a lua apenas soluça no seu movimento. O calor faz as estrelas encadearem sobre a superficie do mar e aterram algumas como naves espaciais, desfeitas pelo calor térmico da atmosfera. Nas nuvens, o racional contar das correntes marítimas, do ascender do ar quente e do controlo dos aguaceiros, discerne-se uma questão: o que provoca essa chuva incadescente de estrelas no meio da noite? Há algo no meio do mar remoto que nos indique a possibilidade de essas estrelas apenas nos iluminarem e apontarem um caminho?
O mar, revoltado e inconstante, não nos responde. Ele guarda o segredo do ser, aquilo que irracionalmente a atmosfera cria: a imprevisibilidade constante, o efeito borboleta das consequências pequenas se transformarem em catástrofes. Um novo Titanic, um novo iceberg, um navio sem fundo, o soltar das tábuas de uma arca de Nóe: o dilúvio.
Estudamos tudo dele. Condições do vento, tantas e tantas ondulações, pequenos remoínhos, mas esses estudos são inconclusivos como quem estuda uma esfera grande e não a pode conhecer por dentro, como que um núcleo maciço e rochoso se tratasse. Os geólogos apenas descrevem os fenómenos, e as placas tectónicas movem-se no fundo do mar. Fluído ou rochoso? Todos eles passam pelos dois estádios, mas destinguem-se consoante o tempo que passam em cada um.
É por isso que os oceanos não têm propriamente fronteiras, as camadas da terra distinguem-se por descontinuidades, sendo incerto cada ciência que estudamos, cada passo que damos.
O mar hoje está mais calmo... as estrelas brilham, e nada parece prever a catástrofe, mas nunca se sabe quando Neptuno resolve mexer no seu tridente e, no alto mar as correntes movem-se, os ventos sopram com força e de novo bailam as estrelas sobre a lua...
E aí, a rapariga dos cabelos castanhos fecha a porta, apaga a luz do quarto e deixa cair as estrelas sobre o chão.
Sem comentários:
Enviar um comentário