Efémero.
Um dia escrevi uma pequena história de Carnaval fantasiado de cowboy, de pistola em riste, carregada desses pequenos estalinhos que tanto nos deixavam fascinados e nos faziam parecer verdadeiros pistoleiros de arma ao punho.
Fulminante é também a palavra que uso hoje para escrever a crónica com que hoje me deparo e me deixa profundamente em baixo. Fulminante é palavra de gentio quando se denomina um Enfarte Agudo do Miocárdio quando é feito de forma tão instantânea que nada vale a intervenção e a pouca probabilidade de ressurreição.
O choro hoje é convulsivo, faz lembrar outros dias em que as lágrimas derraparam, quando já não se aguenta a firmeza do gesto, o balançar das pernas, na certeza de que há um espaço vazio jamais preenchido na cabeça deles, na nossa cabeça. O espaço em que havia felicidade, frases compridas, palavras pequenas. Esse espaço já não o preenche.
E é tão estupidamente pequena a vida do ser humano que nos vangloriamos com o vestuário, exibimos e ostentamos as mais belas jóias e fios de ouro, colares de prata. Tentamos vestir o melhor algodão, o melhor linho, calçar a chuteira de marca, a bota da moda, embora mais dificilmente face à posição económica. Passamos a vida a tentar provar o que somos e a procurar felicidade no que compramos, mas não passamos de estúpidas máquinas programadas para durar no máximo uns 100 anos, com a ajuda da manutenção da farmácia ou os controlos hospitalares.
E o que sobra da nossa vida? Dinheiro?
Não.
Sobra-nos aquilo que devíamos procurar todos os dias: a alegria de viver e o amor que procuramos dar. E esse amor não é o que dás à tua namorada ou aos teus pais. É contar uma anedota a algum colega mais desanimado, sorrir à pessoa mais desamparada, estender a mão a quem não tem de comer ou a quem é desprezado dias a fio na rua.
Não precisas de muitas palavras, precisas de mais acções. Mas é difícil compreender e fazer isto, pois nós, máquina incompletamente acabada, tendemos a confundir tudo, a baralhar o jogo uma e outra vez e não entendemos que balançamos num carrossel da vida que nos levará apenas a um fim: a morte.
Por vezes é dificil dizer e transmitir o que se sente. Por vezes é dificil falar, ter tema para conversar. É dificil provar neste mundo. Estamos cheios de pessoas vazias, de mentes pequenas, de jogos comprados. Estamos rodeados de pequenas porções de tudo e grandes porções de nada. E não compreendemos.
Precisamos de ser felizes, provando-o e vivendo o dia-a-dia, construindo com alguém uma vida que mereça ser vivida até ao último cartucho.
Fulminante.
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