terça-feira, janeiro 29, 2013

Clube Desportivo de Tondela, um fenómeno.


Várias foram as vezes que defrontei o CD Tondela nas camadas jovens. Para mim, até saí vencedor várias vezes, visto que nos últimos anos o Tondela pouco fez para elevar o nível desses mesmo jovens. No entanto as razões de escrever aqui são outras, e a verdade é que neste último ano o Tondela voltou a apostar forte na formação e conta com melhores jogadores, treinadores e condições de treino.
Muito se deve claro aquilo que vou falar: a chegada à Liga de Honra, a liga profissional de futebol, logo anterior à Liga Zon Sagres, onde jogam as melhores equipas. Esta Liga de Honra é uma liga extremamente competitiva, onde há várias equipas a competir pela subida e descida, e os pontos em disputa são sempre imprevisíveis antes do jogo começar. Deslizes mínimos provocam graves danos nas equipas normalmente.
É preciso dizes que eu fui várias vezes, como referi, rival do Tondela.
Mortágua sempre se revê como eterno opositor aos concelhos vizinhos de Santa Comba Dão e Tondela, talvez pelo facto da proximidade e das atribuições que foram feitas aos concelhos vizinhos e tantas vezes esquecidas ao nosso. Estes foram os nossos grandes rivais, embora com menor grau de rivalidade face a Santa Comba, por razões óbvias.
No entanto, quando vemos um clube a ascender da forma gloriosa que o Tondela fez-se, só nos podemos render. Eu próprio gostava de ver o Santacombadense na 3ª Divisão quando por lá andava e este ano calhou a vez de ver o Mortágua, que já não participava há muito tempo. É pena que o GD Santacombadense tenha acabado, pois os jogos eram extremamente disputados e mesmo quando uma ou outra equipa era considerada inferior, os jogos eram imprevisíveis, só comparado ao derby com o SC Vale de Açores, o derby do concelho.
Mas retomando ao assunto e sem dispersar, é preciso dizer que o CD Tondela foi campeão distrital em 2005, ano em que começou o grande crescimento do clube. Em 2007 acontece outra marca importante no clube: a criação de uma claque, a Febre Amarela, cujo número de apoiantes até pode não ser extraordinário é compensado pela fé dessas pessoas, uma vez que por exemplo levaram bastante gente numa quarta-feira de trabalho ao estádio da Luz contra o Benfica B. No mínimo fabuloso o esforço destas pessoas.
É claro que o principal impulsionador foi o seu presidente e a capacidade de gerir o clube. Apareceram patrocinadores de grande porte que passaram a financiar o clube, de maneira modesta porque o Tondela não tem nem nunca teve ordenados chorudos ou grandes regalias. A humildade pautou a subida de produção e de forma astronómica soube contagiar os tondelenses (e diga-se que os concelhos vizinhos) a apoiarem o CDT em tal importância.
Em 2008, com o apoio da claque conseguem ganhar a sua série da III Divisão, mas não a promoção porque ainda era disputado um campeonato de subida. Por fim, no ano seguinte o Tondela catapulta-se para a II divisão. Consegue lugares cimeiros logo no primeiro ano, penso que um 4º lugar (wikipédia) e no ano a seguir falha na última jornada o apuramento para a fase de qualificação para a Liga de Honra.
Não desistindo do sonho, no ano seguinte e depois de ter tido muito avanço, consegue vencer a Zona Centro da IIª Divisão apenas na última jornada no Estádio do Bessa. Suado o triunfo, mas merecido.
Consegue por isso a qualificação para o Playoff, confirmando-se como candidato à subida, deixando o Fátima cilindrado, e acompanhando o Varzim na subida. O Tondela pode erguer-se face a clubes históricos como Boavista, Espinho, Operário, Fátima, Varzim, etc e etc. O Varzim acabaria por não subir por dívidas acumuladas que não permitiam ao clube profissionalizar-se.
E agora o Tondela surpreende, pois muitos esperavam que a equipa apenas conseguisse pontinhos, e que lutasse por sobreviver e regressar à IIª Divisão. Enganaram-se redondamente. O Tondela acabou de bater este domingo o Santa Clara (tantos anos de Iª Liga!) por expressivos 4-2, numa excelente exibição e estabeleceu-se no 5º lugar. Diga-se que como o Sporting B não pode subir, está apenas a poucos pontos da zona de subida, muito longe do Belenense que tem feito época extraordinária, mas perto do Desp. Aves ou do Arouca (uma revelação também nos últimos anos). É por isso possível subir, e isso está no sonho de todos os tondelenses. O CD Tondela para já conquista uma evolução enorme e um estatuto diferente no panorama nacional, mostrando uma gerência implacável e um crescimento enorme graças aos seus adeptos, presidente, directores, treinadores e jogadores. Já foi mesmo alvo de destaque de crónicas pelos seus feitos e pelos adeptos que consegue levar, além das boas casas que consegue. O CDT pode por isso fazer história e levar longe o nome de uma região e de um distrito que merece melhor destaque no panorama nacional.

Crónica sobre Crónicas (Recuperada!)

Ao procurar uns livros antigos para emprestar, deparei-me com um pequeno dossier que continha os textos que escrevi durante o 10º ano, o ano em que mais gostei da disciplina porque era debruçada sobre pequenas obras e muito à base da expressão escrita. E aqui está, encontrei lá uma crónica que a professora pediu para escrevermos.
A escrita é ligeiramente diferente e claro que nota-se alguma evolução, mas gostei da crónica e por isso resolvi recuperá-la para o Blog.

"Crónica sobre Crónicas"

Ao começar a escrever esta página de crónica, interrogava-me como haveria eu de arranjar um tema para escrever uma crónica...
Enfim, pensei em falar do governo, da guerra ou da Internet, mas todos esses temas já estão tão usados que provavelmente só iria escrever lixo. Por isso, decidi-me por ligar a televisão.
Erro total, obviamente! O raio do aparelho passa a vida a distribuir publicidade pelos olhos dos portugueses, de tal maneira que dei por mim a contar o tempo que demoravam os reclames ou quanto duravam os intervalos da publicidade dos nossos canais de excelência. Sim, porque, mesmo a programação, é uma pouca vergonha. Não há nada de jeito, tirando dois ou três programas como o Prós e Contras e alguns Telejornais. Vão-se aproveitando umas "sobras".
Entretanto, enquanto premia os botões do comando do magnífico aparelho da Thomson, começou o Jornal das 8. Parei imediatamente no canal que ainda tem alguma cotação na minha lista de coisas a fazer, a RTP. Afinal estava completamente enganado! As notícias eram sobre coisas actuais que estavam mais que usadas e não era eu que ia fazer uma crónica sobre o caso Freeport, sobre o Barack Obama ou sobre a Crise Financeira Mundial.
Apaguei o televisor e decidi então abrir o Google. Mas como haveria eu de encontrar um tema na Internet? Pareceu-me uma estupidez, logo, consultei o meu correio electrónico e desliguei o computador.
Dirigi-me ao meu quarto (não sem antes ter passado pela cozinha para ver o que era o jantar) e peguei nas revistas que por lá tinha. Afinal, à terceira costuma ser de vez. Desfolhei, desfolhei...
Fartei-me eu de desfolhar as páginas das revistas, mas nada. Só futilidades. Para que é que eu quero saber quem é a nova namorada do Cristiano Ronaldo ou para onde vai a Diana Chaves passar férias? Como diz o outro, se ele fizesse algo de útil para a sociedade é que andava bem. Investia no nosso país.
E, com tudo isto, ainda andava eu à procura de um tema para a crónica. Decidi abrir uma enciclopédia. Tinha temas bons e interessantes. Mas não o suficiente para atrair qualquer leitor. Demasiado chatos e preocupados. Vou falar sobre o quê? Sobre a Termodinâmica ou sobre as invenções da humanidade? Quem é que vai ler isso? Não estava, nem estou, muito optimista para isso.
Então, decidi fazer mais uma tentativa. Decidi consultar o jornal. O que costumo ler sempre, ou quase todos os dias: o Jornal de Notícias.
Primeira página: Gripe Suína mata mais...
Nem cheguei a abri-lo. Vou falar da gripe suína ou do vírus da SIDA?  O mundo já está demasiado alertado para eu focar o tema, embora seja sempre importante. Não, para mim não é tema que mereça ser inserido nesta crónica.
Para falar de doenças, os senhores se quiserem, vão ao vosso médico de família ou fazem uma pesquisa na Internet. Agora, na minha crónica, não entram cá doenças, até porque me infectam o papel e depois é um problema. Só tenho medo que essas doenças me afectem a escrita. Depois não escrevo nada de jeito.
Mas, passando à frente, foi neste momento que me sentei e reflecti: "Daniel, tu vais fazer este trabalho nem que seja com um tema qualquer". Começava já a entrar em pânico.
Não há nada de jeito para falar, já não se faz nada como antigamente. Até os temas são muito maus para se falar e estão muito usados.
Portanto, foi nisto que reparei que o que já tinha feito era merecido para alertar o mundo; era motivo de crónica e decidi voltar a iniciar o computador, abrir o Word e começar a digitar. E agora cá estou eu a contar-vos a minha simples crónica, mas de um alerta para o mundo. Deixem-se de Futilidades!
Daniel Matos, nº9 10ºA

domingo, janeiro 27, 2013

Quitters


Desisto.
E aquela vaga sensação de incerteza de quem está completamente sedado pela vida, apaga-se de novo pela crença que as pequenas cinzas incandescentes já não conseguem reacender, nem de perto nem de longe a fogueira alta que construímos. Ela percorre-te como um veneno nas veias, atacando cada órgão teu como se fosse a última substância vital a que estivesses agarrado, e suga-te o último pedaço, o derradeiro.
Usar.
A sensação é de reciclagem. Usa, deita fora, torna a usar. Duro não é? Mas é a lei da vida. Quantas vezes não fizemos isso? Quantas? É claro que com a mesma pessoa ou na mesma situação, isso dificilmente foi, mas quantas vezes não fizeste o mesmo com várias pessoas na tua vida, ou apenas usas-te? Sabes?
É difícil admitir isso e moldamos uma figura de nós próprios no qual parecemos atingir um grau perfeito, apenas porque o mundo que vemos é realmente visto por nós. 
Humildade.
É a maior virtude que se pode ter, saber quando se tem de dobrar, mas não confundamos com rebaixar, porque ser humilde é também reconhecer quando se faz bem o suficiente, embora não exaltarmos em demasia. E quantas vezes o fazemos? Pois aí há uma verdade: na maioria das vezes achamos que o fomos, quando não o fomos. Chega a ser idiota, a ser convencido, a não saber reconhecer-se. Passamos o dia todo nisto, a olhar os outros. a criticar e a ver-nos ao espelho como algo perfeito, sem noção do real.
Sentido.
E dar um sentido à nossa vida? Pensamos sempre no curso, na namorada, nos filhos, é nisso que pensamos, uns mais outros menos, de maneiras diferentes. Pensamos também em fama. Sim, a fama! Todos queremos de algum modo ser famosos e ambicionamos sê-lo. É bom admitir isso. É bom dizê-lo. Mas que sentido dar?
Mais.
Precisamos sobretudo de entender os outros. Compreender que não somos iguais, temos diferenças de personalidade, de crenças, da maneira de como vemos o mundo e de mil e uma coisas tão distintas que torna o universo melhor e mais completo. Mas claro que há coisas que nos impedem de compreender...
O medo.
É o medo e sempre à roda do medo. A falta de confiança, a perda de discernimento, o medo. Receamos tudo de todas as maneiras e claro, como orgulhosos que somos, pretendemos mostrar o mínimo. Temos medo de arriscar sem saber que é uma jogada segura, sem saber que temos a maior probabilidade de ganhar. Temos medo de lançar os dados e escrever a pontuação final.
Winners.
Acabo em inglês como comecei no título, sabendo que é importante vencer. Triunfar na vida é algo que nos preenche e no qual todos temos de obter. Uma pessoa que nunca triunfou é uma pessoa perdida, psicologicamente acabada e sem motivos de interesse ou partilha. É uma pessoa ferida, que se alimenta de outras coisas para viver. Precisamos todos de vencer. E para isso apenas podemos diminuir a algumas palavras: superação, cuidado, confiança, amor.

terça-feira, janeiro 22, 2013

Serra da Estrela, 27 Janeiro de 2007

O comum é os homens serem mais pequenos que a montanha, mas às vezes é preciso fazer-se alto, calçar as botas e "engradecer", tornar maior.

Era Janeiro e a neve tinha tomado um pouco por todo o lado as formas da montanha. A Estrela, não a mais alta, mas a mais bela, estava coberta do manto branco que se estendia por toda a sua cadeia e que tinha caído também nas maiores altitudes. Bem perto, o Caramulo também tinha neve, resultado dos fortes nevões nas terras altas do final de Dezembro.
- Agasalha-te Eduardo!
O carro estava parado, e tinha acabado de sair com a predisposição de um dia animado na neve, junto de correrias, brincadeiras e muito gelo. O dia estava meio encoberto, mas não se podia dizer que estava muito frio para a época do ano embora os casacos fossem bem aconselháveis para nos mantermos quentes.
À medida que os anos passavam sentia-me um pouco mais cansado, um pouco mais "velho", mas desde que nascera o Eduardo e a Leonor em 1998 e 2001, tinha de dedicar tempo a estes pequenitos, que eram agora fonte da minha vida, e a razão máxima para continuar a lutar.
É claro que vocês não sabem tudo da rapariga dos cabelos castanhos, e não vão saber, embora possa vir a contar histórias antes e depois desta, porque dentro da minha cabeça vão acontecendo projecções do que se passou. Desculpem-me alguma incoerência, e também claro que acrescento um toque mais brilhante do que são realmente as histórias. Porque a minha história com ela é mágica, e quero preservar isso.
Ela era boa mãe, disso não tinha dúvidas, como sempre esperara. 
Acreditem que quando eu a via no início dos nossos tempos, era para sair e essas coisas, mas acho que percebi cedo o seu jeito natural. E isso é olhar para ela todos os dias que acordo e dizer que continua bonita e que não olho ao cabelo despenteado, ou à barriga dela depois de ter tido os nossos filhos. Nunca liguei muito, porque sempre valorizei o seu olhar, o seu jeito, porque o físico conta claro, mas nada que se compare ao modo de ser. E no meio de uma sociedade destas, eu só posso valorizar.
Acho que já me perdi ao descreve-la, e claro que é difícil o encanto não passar. Ele passa, mas mantêm-se o carinho, a lealdade, etc. E nada mais importa. Eu chamo-lhe amor, embora alguns insistam em não lhe chamar assim.
Voltando atrás, era a primeira vez que ia levar o Eduardo e a Leonor à serra. Também pouco tinha nevado nos últimos anos e agora era tempo de aproveitar. O Eduardo estava maravilhado com aquilo e logo partiu para um jogo de "tiros". Alinhei e ainda nos molhámos bastante com as bolas de neve. O pequenito estava em êxtase.
- Pai, olha só o boneco de neve que estou a fazer.
A Leonor, era mais calma, mais parecida no feitio com a mãe, embora os traços físicos fossem mais próximos aos meus. Tinha construído um pequeno boneco de neve com a ajuda da mãe, embora eu achasse que aquilo ia cair nos próximos minutos.
- Que belo trabalho das meninas. Acho que a tua mãe escolheu a profissão errada.
E rimo-nos muito. A rapariga dos cabelos castanhos olhou para mim e sorriu, o sorriso que eu já sabia o que se passava. Encostá-mo-nos ao a conversar enquanto os pequenitos brincavam.
- Se eles soubessem...
- Se eles soubessem ficariam orgulhosos.
Sorri, sem medos.
- Amanhã vai ser um grande dia... espero.
- Não sejas tonta. É óbvio que vai. Tudo foi feito o mais rápido possível e vai correr bem. Eles vão ter orgulho quando souberem que a mãe é a pessoa mais corajosa do mundo.
- Talvez fosse melhor dizer que a mãe está doente...
- Não. Eles são pequeninos. A tua ida a casa da tua irmã a França, é melhor e não lhes faz confusão. Vão andar menos preocupados, embora sei que sintam falta da mãe.
- Mas...
- Sim?
- Eu tenho medo. E se eles nunca mais...
- Não! Tu vais conseguir. Sem haver qualquer tipo de complicações! Eu sei. A operação vai ser rápida e vão eliminar-te o nódulo. 
- Promete-me que se isto correr mal...
- Prometo-te sim! Prometo-te que cuidarei deles, que ficarei com eles sempre, que ensinarei a Leonor a ser a mulher que tu és, e que ela terá orgulho em ser como a mãe, uma lutadora. Prometo-te que o Eduardo saberá que és uma heroína e fará disso o seu exemplo de vida, que ele há-de ser um homem bom e honesto e com boas notas.
- Obrigado. Se o Eduardo for como tu já fico bastante satisfeita.
- Claro que vai ser. Um "bad boy" com um coração de manteiga.
E rimos por fim. 
- Pai, podemos ir lanchar a casa do padrinho à Guarda?
Pisquei o olho à rapariga dos cabelos castanhos e disse:
- Pelo menos o gosto por andar a passear é da mãe, sempre com a mala atrás.
- Só espero que não apanhe o jeito para ser palerma como o pai.
E sorriu.

domingo, janeiro 20, 2013

Zero

Todo o dia,
Toda a noite,
Quando as luzes se apagam,
Nada.

Toda a raiva,
Toda a sorte,
Quando o dia nasce,
Nada.

Rios de ninguém em terras quebradas,
Noites ausentes de pegadas molhadas,
E não, não vieste. 
Não, não chegaste.
Não bateste à minha porta,
E por fim te entregaste.

E quem te disse que as pedras rolavam?
Quem te disse que as águas se erguiam?
As nossas mãos, essas voavam,
Profundamente gritavam,
No vazio.

Árvores Caídas, folhas saídas,
Lumes ardentes, terras incandescentes.
E por fim, onde estás? Por quem te vendeste?
Deixei o bilhete na porta,
Aquela que nunca bateste.

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Win or Die.

Todos os dias tu perdes e ganhas. Todos os dias tu vives e morres. Pelo menos um pouco de ti ganha, ou um pouco de ti perde, ou um pouco de ti vive ou até morre. Todos os dias tu és confrontado com estas ideias. E todos os dias tu segue-as sem consciência delas.
Às vezes precisamos de derrotas na vida para perceber a importância das vitórias, para saber saborear tudo o que se passa à nossa volta. Pois, eu hoje perdi.
Perdi porque tudo o que eu achava que conseguia superar hoje, não superei e vou procurar outra vez maneira de fazer isso acontecer, maneira de ser feliz. Perdi porque não me acho suficiente bom para as minhas expectativas, não me acho suficientemente bom quando olho para aquela pessoa, ou quando penso que devia ter feito de determinada maneira, onde os melhores atingem o topo. Eu passo a vida no quase.
Não sou suficientemente bom para aquilo que traço. Ou se sou, não estou contente e podia ter sido mais. Eu queria ser melhor! E não sou.
E as razões podem ser várias: falta de capacidade interior, de aplicação, de honestidade comigo mesmo. Talvez eu devesse pensar melhor naquilo que quero, com quem quero, como quero. Porque vivo eternamente no se. E eternamente no quase.
Sim, hoje sinto-me derrotado e inválido. Deitei para o ar o esforço que devia ter sido maior e sei que só vou poder voltar a voar para o ano. E é frustrante ver que as décimas contam, mas a culpa não deixa de ser minha. E a culpa é minha!
Não vale a pena lamentar, claro, mas não deixa de ser algo para pensar. E hoje sinto-me mal. Por mim e porque deveria ser melhor. E se não atinges o potencial ficas assim, frustrado. Eu devia ser melhor.
E agora só preciso de voltar a ganhar vida para o que falta, para pelo menos tentar ser feliz. Mesmo que a vida não me deixe, ou que eu ainda não tenha percebido onde encontrar a felicidade.

quinta-feira, janeiro 17, 2013

A menina que sonhava Pássaros

Oriana sorriu sobre a cama, pequenina e com o seu nome escrito na cabeceira. Adormecia profundamente sobre os lençóis e o travesseiro, sonhando com principes e princesas e outras coisas que cabem na cabeça de uma menina de seis anos.
Sofia pousava o livro d' "A Fada Oriana", conto de Sophia de Mello Breyner, que claro, adaptava para a filha, pois ela ainda pouco sabia ler, pois a infância de Oriana tinha sido passada de maneira diferente de todas as outras crianças. E amanhã voltava a mais um dia desses, que não tinha viagens para a escola, sandwiches feitas pela mãe nem as conversas com os colegas da turma. 
As coisas mais aproximadas que tinha eram as auxiliares que tentavam ajudar as crianças a aprender e os livros e brincadeiras que por lá havia. Era duro, e trocava de lugar com a filha se assim se pudesse...

As portas do Hospital Pediátrico abriram-se e a "fada" Oriana entrou pelo seu pé sorrindo como se o mundo fosse o lugar mais belo para ela e agarrando a mão da sua mãe com força. O pai depositava um beijo na testa de Oriana e deixava transparecer um ar sereno, embora já estivesse preparado para ouvir o diagnóstico. 
Oriana correu assim que viu a Dr. Hélia e abraçou-se muito a ela. A médica de 33 anos estava ali pronta novamente para receber a criança que já tinha sido sua paciente há 3 meses. E como gostava do cabelo dourado de Oriana! Era de facto uma criança bonita, com feições da mãe, mas os seus olhos eram nitidamente do pai. Sorriu e disse-lhe:
- Como está a minha "fada"?
Sofia e Mário sorriram. A filha estava feliz apesar de tudo e isso era importante. 
Levaram-na depois para o pequeno parque onde os meninos brincavam. Eram sobretudo meninos doentes com vários casos de doenças complicadas, mas maior parte deles ia ser curado em pouco tempo. O mesmo talvez não se pudesse dizer de Oriana...
O consultório estava mais frio do que o resto do edifício, ou talvez fosse um frio psicológico que invadia cada centímetro dos seus corpos. A notícia era já esperada há 2 anos entre "rusgas" do Hospital Pediátrico para o IPO e internamentos de várias semanas. O diagnóstico estava lançado...
- Como sabem, a vossa filha não está na melhor situação... e a verdade é que não arranjámos dador compatível. Sabemos que a vossa filha vai começar a enfraquecer e vai ter de se manter por aqui. 
Frio.
- Mas doutora, o que podemos fazer nós... alguma coisa... no estrangeiro...
- Eu sei que é dificil de aceitar, mas não há muito que possam fazer pela Oriana... Sei que tu és católica Sofia, portanto rezem e tentem fazê-la feliz. Sempre retarda um pouco a doença e podemos encontrar um dador em qualquer parte...
- Custa-nos tanto...
- Eu sei. E a mim também. Ver uma menina como a Oriana assim... sempre tão alegre e com uma doença tão grave.. Mas estaremos sempre atentos à procura de um dador. E fazer os possíveis pela vossa filha...
- Nós sabemos doutora. Obrigado por tudo...
E aparecia agora a porta Oriana com o sorriso enorme e com o ar irrequieto:
- Papá e Mamã, vamos brincar?
Leucemia. 

segunda-feira, janeiro 14, 2013

Gemada na Assembleia

O leitor atento certamente que já foi actualizado de mais uma das quantas batatas que ocorrem todos os dias na Assembleia da Republica (aquela casa em Lisboa onde se sentam não sei quantos senhores a olhar uns para os outros e a discutir sobre o que o resto dos 10 milhões vai receber no próximo ano e, principalmente, o que vai pagar).
Ora Couto dos Santos, deputado do PSD está desiludido com o PS, o que no fundo quer dizer que está contente. Isto notou-se depois de afirmar que o PS não está preparado para governar o país e que mostra demasiadas incoerências e contradições.
O mais grave é que Couto dos Santos tem razão. Posso considerar histórico porque pela primeira vez na minha vida estou a dar razão a um político. Mas não estou só a dar razão, estou também a completar a ideia porque é verdade que o PS não está preparado. E o mais giro é que o PSD também já demonstrou que não tal como o CDS. Salva-se o Bloco que está num emaranhado ideológico e está claramente afastado também da governação. Por último, dos maiores partidos, está o PCP.
E assim vai o estado da governação em Portugal... ah é verdade! Esqueci-me de referir algo sobre o PCP, mas sinceramente, há mais alguma coisa para referir? Afinal a bandalheira é tanta que já não há por onde se lhe pegue. Porque os partidos não estão preparados e começam também a perceber que não querem governar, porque o país está tão arruinado que nem dinheiro há para conseguir desviar. Para desviar pastilhas assalta-se uma mercearia, o que era subir na carreira para alguns.
Primeiro o PS afirma algo muito correcto e bonito que todo o povo concorda e exulta os seus ideais e depois acaba por vir desmentir a ideia com uma ideia parva que o Seguro lá inventou. E é inteligente lembrar-se disso. Afinal quem é que quer governar esta bandalheira?
Pedro Passos Coelho também está a pensar nisto. Primeiro foi obrigado a contrair matrimónio com Paulo Portas e agora o seu partido anda a provocar claramente os partidos dos outros. Parece-me um triângulo amoroso interessante e espero que a TVI aproveite esta história apaixonante da República Portuguesa.
Espera-se agora uma reacção do PS, visto que ambas as crianças gostam do mesmo chocolate e só o papá Cavaco é que pode por um termo a isto dando duas lambadas a cada um (mais devagar em Pedro Passos Coelho, que é o seu filho pródigo) e pondo tudo de castigo. Era um favor que nos fazia pelo menos.
Mas atenção: as medidas que o PS anda a tomar não revelam muita coerência mas revelam sobretudo bom-senso. Afinal é preferível estar a meter para o "bucho" o dinheiro do ordenado dos deputados do que levar mais uns trocos do orçamento de estado... É que arriscar por isso um balázio no bucho ou levar com um ovo na testa, mais vale deixarem caçar o Coelho.
Por falar em ovos e antes que acabe a folha do word, vai ser lançado o primeiro ovo estrelado instantâneo e vai ter patente portuguesa o que se percebe. Afinal com tantos ovos lançados à Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, de José Sócrates alguma ideia havia de surgir... E ainda dizem que o Engenheiro não aposta na inovação tecnológica! :)

quinta-feira, janeiro 10, 2013

Metástase

10-01-2013

Todos os dias passamos por pessoas com quem provavelmente nunca vamos falar. Todos os dias desperdiçamos tempo a pensar naquilo que devíamos ou não fazer e temos medo. O medo é natural.
Temos todos medo da mesma coisa: da estreita relação, da linha ténue que separa a vida e a morte, o diabólico jogo que estamos envolvidos. E desperdiçamos tanto tempo... Eu próprio posso dizer que sim, desperdiço-o, preocupado com tantas coisas, ou jogando também psicologicamente sobre os comportamentos dos outros... Somos todos assim, está-nos na massa sanguínea e na função cerebral.
A primeira vez que mais afincadamente quis vir para a saúde foi há dois anos. E tive dois casos nestes últimos dois anos: os meus dois avôs faleceram, embora já com uma idade grande, a motivação para saber o que está por trás de todos aqueles problemas que tu não consegues entender foi maior. 
Talvez a enfermagem fosse o caminho mais próximo do doente, mas se me perguntarem o porquê da radiologia eu digo: não era a primeira opção. A primeira opção era mesmo na faculdade de Farmácia da UC e o objectivo era a investigação. No entanto, acabei por "cair" na radiologia. E porquê? Somos nós que estamos lá maioritariamente quando detectamos um cancro. Somos nós que vamos estar lá, maior parte das vezes sem tocar no paciente e resultar de um diagnóstico. Somos os primeiros a saber provavelmente.
Mas talvez os acontecimentos que sucederam depois da minha entrada no Superior tenham sido provavelmente aqueles que mais ligados estão com a minha profissão.
Veres um amigo teu crescer sabendo que o pai tem uma doença sem cura, com capacidade degenerativa e sem puder fazer muito por isso. Uma pessoa que conheces desde sempre, não só o teu amigo como o pai dele. E depois como que uma coisa repentina, que no fundo toda a gente está à espera, acontece. Aconteceu a morte, sim, mas não nos podemos esquecer como as pessoas lutaram contra isso, com todas as armas, e como a própria mulher algum tempo depois acaba por ter um cancro abdominal que foi rapidamente diagnosticado e tratado. Lutadores como estes ensinam-nos todos os dias.
E pronto, chegamos à data fatídica de hoje.
Podes não ter conhecido exactamente os primeiros anos daquela pessoa, mas o últimos foram certamente os melhores. Já sabíamos que as coisas não estavam fáceis... o diagnóstico tinha sido terrível, mas houve uma recuperação. Depois a quebra novamente.
É quase em estado de choque que recebes estas notícias, porque não contas. Imagina-te sem uma mãe ou sem um pai com 19 ou 20 anos, ou até mais cedo. Aquela pessoa que sempre te viu crescer, que sempre esteve lá, mais do que qualquer outra no mundo. E agora? Vazio.
E esse vazio precisa de ser preenchido por memórias boas, recordações brilhantes e o carinho de alguém que partiu e que se não estiver noutro sítio, há-de estar pelo menos na memória.
É duro. É a vida. Mas aí temos de encontrar força no bem que essa pessoa no quis! 
E são estas experiências que traçam o nosso caminho, que nos mantêm vivos e nos fazem pensar na maneira como fazemos as coisas e desperdiçamos o tempo. 

Ao João Freitas e ao Gabriel Lopes.

terça-feira, janeiro 08, 2013

Black

As nuvens cinzentas que se punham sobre São Jacinto, faziam antever um final de tarde desesperante, talvez molhado, talvez seco, com temperaturas para casacos e roupas quentes, não fosse Janeiro, nesse fatídico ano de 2001.
A voz da rapariga dos cabelos castanhos estava agora mais longe, talvez no meio de outra cidade, de outro local que não a areia da praia ou as plantas rasteiras das dunas, paisagem protegida...
Ela tinha partido, faziam umas 3 horas e eu ainda estava imóvel, como uma rocha, disposto a não arredar pé daquele sítio, como se não quisesse aceitar a realidade, como se quisesse que o sonho não acabasse e manter viva a chama...
A rapariga dos cabelos castanhos não tinha sido dura... tinha sido apenas igual a si própria, sem saber bem o que falar, olhou-me nos olhos e disse, aquilo que ninguém quer ouvir:
- Eu não posso continuar isto...
O meu ar de estupefacção foi total, como se de um livro aberto me tratasse passando por mim as mais variadas sensações. Depois de semanas sem quase falarmos ela decidiu abrir o jogo e logo desta maneira...
- Tu não podes?
- Não, não posso. Eu queria que tu te preocupasses mais, que me dissesses mais aquelas palavras que antes davam um clique ou que apenas estivesses lá. Mas não. Desde que viemos de Itália que pareces assim, mais distante, como se não te quisesses envolver demasiado com medo do que os outros possam dizer!
- Medo? Eu não tenho medo!
- Tens. Medo de te magoares.
Era um pouco verdade. Mas eu precisava também de sentir algo mais, da preocupação dela, do jeito dela que pareciam ter desaparecido...
- E tu?
- Eu?!
- Sim. Quantas vezes desde que viemos de Itália que me perguntas-te como estava? Quantas vezes ligaste a perguntar alguma coisa? Sou só eu? Porquê? Porque sou homem é que me tenho de preocupar e tu nada?
- Estás a ser injusto... tão injusto!
- Injusto ou não eu também sinto isso... e não podia ter sido mais expressivo.
- Tudo bem. Faz como quiseres...
E talvez eu devesse ter corrido atrás dela, mas as forças obrigaram-me a contemplar a ria, e aumentar o seu caudal. Custa admitir que não se está bem ou que se esperou outra atitude e isso magoa, vezes e vezes sem conta. E às vezes sofrer muito não é desculpa.
Talvez tivesse sido duro, talvez eu próprio deveria ter ligado, mas o orgulho não me deixou, porque sentia que ela tinha-se desligado primeiro, apesar de agora estar a remoer e a ponderar falar de novo com ela, sempre a pensar o que dizer, como dizer e na maneira de encerrar o assunto. Talvez ela tivesse mesmo acabado tudo ali e eu não tivesse percebido... talvez houvesse outro... ou talvez eu não fosse suficientemente bom para ela. Bolas!
As luzes do Astra 1.4 acenderam-se e eu parti rumo a A25. A viagem fez-se mais rápida, embora tivesse parecido uma eternidade. Quando dei por mim estava a passar junto à placa de Tondela no Ip3 rumo ao destino. Já era noite e caía uma chuva miudinha normal para a época. Os termómetros indicavam os 3 graus e no Caramulo já havia uma mancha de neve, embora pequena...
Depois de acender a lareira, sentei-me a escrever o livro que tinha prometido apresentar um dia mais tarde a uma editora, segundo conselho da prima mais velha. Não estava fácil pensar em romances históricos quando a minha vida tinha pregado uma chapada...
Trim-trim.
O telefone.
Talvez fosse a minha mãe a perguntar o que tinha feito para o jantar ou se estava muito frio aqui, ou então o meu irmão a pedir-me alguma ajuda para um cartaz... e eu sem paciência...
Retirei o auscultador e atendi.
- Olá.
A voz era inconfundível, até porque tinha ecoado toda a tarde na minha cabeça... Era ela! Será?
- Olá... olha! eu quero...
- Xiuuu!
Cortou-me a voz. Que queria ela afinal?
- Então?
Silêncio. E em surdina:
- E se começássemos tudo de novo?
E riu-se como uma criança a quem tinham devolvido a sua boneca preferida.

terça-feira, janeiro 01, 2013

2013


Concretizar - tornar concreto o que é abstracto; concretizar uma ideia, uma melhoria; Realizar; Alcançar um objectivo.

Podes começar o ano com o pé direito, aquele que primeiro tiras da cama; podes começar o ano com uma nova roupa, um champanhe novo aberto, estrear uma gravata. Podes dizer que o ano que passou foi bom, mas que esperas que este seja melhor. Podes desejar tudo, com todas as superstições, mas o que pode mudar está sempre ao teu alcance, se olhares para dentro de ti.
2012, foi um ano atribulado na minha vida, é verdade. Tive grandes momentos, mas também estive no fundo. Sim, no fundo, onde nunca antes se calhar estive. Mas comecei a aprender um pouco, a perceber que temos de ser fortes mentalmente e saber corrigir os erros, tal como as os erros que cometeram connosco. 
Por isso o primeiro acto de 2013 é perdoar. 
Sim, eu sei, parece um bocado citado da biblia, original de algum padre ou bispo, mas afinal sempre ouvi dizer que o primeiro a perdoar é o mais forte. Demasiado cliché...
No entanto, eu perdoei o mais rápido que consegui, tudo o que me fizeram ou aconteceu de mal em 2012, assim como tranquilizei-me comigo próprio sobre os erros que cometi. 
E agora 2013...
O ano começou como todos os anos começam, na companhia dos amigos e depois os almoços e jantares de familia, um alcoolzito a mais, mas sempre dentro do normal. No entanto o plano para "Dois Mil e Treze" é mesmo este: concretizar.
Como ser humanos temos medo, mas também temos projectos, sonhos, coisas que queremos ver construídas. Às vezes dás por ti a pensar: e se...? E depois dás conta que houve demasiados "se's" na tua vida e isso muitas vezes pode ter-te cortado oportunidades.
Lembraste daquele projecto que tinhas para apresentar a um professor ou aquela ideia um tanto descabida sobre determinado assunto que tiveste medo em revelar porque te iam achar doido? Ou daquela rapariga que tu gostas de falar mas não sabes o que ela pensa de ti e sentes-te inseguro? E se arriscasses?
Pois todos temos medo. Medo daquela palavra redonda escrita a maiúsculas: o NÃO. 
Somos inseguros, muito racionais, e às vezes também irracionais. E neste ano temos de deixar de ter medo da crise, medo de tomar decisões! Temos de ter o mundo na mão, porque podemos tê-lo. Pelo menos o nosso!
E só assim seremos felizes, porque mesmo que o NÃO seja bem redondo, vai acabar por existir um SIM muito maior. Arrisca e Concretiza.

Vive tentando realizar muitas das coisas com que sempre sonhaste e não te sobrará tempo para te sentires mal.
Richard Bach