Os anos passam, as pessoas tornam-se débeis. Mas também se tornam sábias.
Nunca te escrevi uma carta. Faço-o hoje, um ano depois de tu teres partido. Não partiste porque quiseste eu sei. Mesmo assim fico feliz porque antes de teres partido para a tua derradeira morada, juntaste os teus 3 filhos. É isso que faz um homem feliz, e me faz a mim tambem, não só pelo exemplo que foste, mas pela referência que és. Um homem não chora, mas eu chorei naquele dia avô...
Eu sabia como já te encontravas mais débil, mas só no teu corpo que já estava cansado. A tua alma continuava a ser a de um menino livre que voa por aí. Mas eu chorei avô...
Eu sei que não querias, eu sei que tu querias que fossemos fortes e superássemos tudo, e superei, mas naquele momentos, as lágrimas venceram-me, avô. Porque me lembro da primeira vez que te disse que ia aprender viola e o teu sorriso foi evidente, "um neto musico como eu", e lembro-me de quando tu te rias das maluqueiras do Rex. E riamo-nos os dois. Chorei desses bons momentos, avô.
Mas eu superei avô, e sei como ficaste feliz por ver que eu finalmente tinha concretizado o sonho de jogar futebol. Cada jogo a partir daí foi sempre a pensar em ti. As boas exibições e as vitórias eram tuas.
Desculpa avô, mas eu não podia aceitar que fosse só aquilo. Ver descer-te à Terra foi o que doeu mais como uma ferida que sangra o coração. Eu não aguentava. A minha cabeça rebentava. Não pode ser só aquilo. Tenho a certeza que tu vives em algum lado, nem que seja dentro de mim.
Avô, aquilo que mesmo se alguma vez te disse, quero-te dizer agora: Eu amo-te e nunca me hei-de esquecer desses cabelos loiros e dessa face macia como a de um bébé. Era assim que eu te via. Nem me hei-de esquecer do grande homem que foste e que todos fossem assim, como tu.
Se me perguntares porqe copiei as palavras de uma passagem do princepezinho para a tua campa, eu digo-te avô. Eu via-te como um princepezinho. Loirinho e de olhos azuis-esverdeados preocupado com coisas que os homens já não se preocupam.
Esta pode ter sido a pior carta que já escrevi, mas para mim é a melhor que alguma vez fiz, por ser unicamente para ti. E se me premites, vou transcrever o texto outra vez:
"E caiu de mansinho, como caiem as árvores. Nem sequer fez barulho, por causa da areia"
Porque foi assim que tu me deixas-te. De mansinho e sem dor. Como um pequeno principe honrado, um passarinho que caiu do ninho por já não saber voar.
Um beijo avô,
"Eu vou com as aves"
<3
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