sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Plano De Guerra.

-Foge!
Eu não sei o que se passa...
-Foge!
-Mas o que se passa papá?
-Foge! Tu e a tua mãe! Escondam-se lá em baixo na cave.
-Papá... Vens conosco?
-Eu já lá vou ter filho, mas agora faz esse favor ao pai, fazes?
-Papá, e podemos jogar ao jogo das pedrinhas e dos castelos?
-Podemos querido, podemos. Mas agora vai lá para baixo com a tua mãe, sim?
-Sim Papá. Eu vou.

...

(O papá gosta muito de ti Sahid. Um dia vais perceber o que é o amor...)
...

As nuvens cresceram, e sinto o meu pé descalço. Espera, eu não sinto nada!
É noite escura e eu não vejo nada, mas o meu pé não está lá. Nem o meu pé, nem parte da minha perna. O que se passa? Devo ter desmaiado e agora tenho isto tudo pisado.
Ao longe oiço o barulho de balas atravessadas pelo vento, de explusões, agitação e caos. Entendo tudo. A minha perna não é uma perna. A minha perna está desfeita lá ao fundo no mar... Sinto-me incapaz. Incapaz.
Mas o pior é que vejo destroços por cima de mim. Pelos vistos não vou morrer com a bomba que aterrou ali a bocado, mas sim de fome.
E o meu filho? O meu pequeno filho. Será que ele foi para a cave com a mãe?
- Sahid?!!! Onde estás Sahid?!!!
Não obtenho resposta. Olho para o que resta da casa. Será que eles sobreviveram? Rastejo até à escada de acesso ao túnel que dirige a cave. Esta parte está intacta. Pelo menos eles sobreviveram de certeza.
Finalmente consigo ver a minha perna, ou o que resta dela. Estou a sangrar em abundância... Não sei se consigo aguentar até alguém chegar. No entanto, ainda arranjo um pano que talvez resulte para estancar o sangue. Acho que tenho boas hipóteses, mas tenho um corte tão profundo na outra perna que será muito dificil conseguir. Dói-me tudo. Tenho fome e sede. Não sei se conseguirei sobreviver.
O meu pequeno Sahid. Tenho saudades dele. Será que não o vou ver mais? Estou a experimentar o sentimento duro de perder um filho, mas sei que é ele que me vai perder a mim. Acho que já a algumas horas que sei isso...
E Ariana? Alá os proteja. Protejerá melhor que eu, se ficar incapaz. Mas sei que nem isso vou ficar, e não quero sujeitar-me a essa humilhação. Sei que vou morrer brevemente, não sei ainda é quando...
Gostava que eles soubessem os dois o quanto os amava, e não vou poder dizer-lhes... Eu não sei o que fazer. Não consigo chegar perto deles, e eles estão melhor lá em baixo. O bombardeamento ainda não acabou...
Isto é um som de um F-16 dos Infiéis Americanos? Sei que vai ser agora o momento final... O meu país é uma terra perigosa, mas muito mais desde que chegaram estes invasores. A minha nação será sempre a minha nação.
Oiço o missil. Vai cair aqui perto...
Será que vai doer, morrer? Talvez não. Pelo menos não me doeu a primeira bomba... talvez Alá me dê um lugar do paraiso. Só queria o meu filho, o meu pequeno Sahid...
Sahid!! Que Alá esteja convosco.

...

- Papá? Onde estás tu papá?
- O Papá não volta mais amor...
- Mas ainda não tinhamos jogado ao jogo dos castelos e das pedrinhas...
- O Papá agora foi para junto do avô
- Mas onde está o Papá?
- O Papá foi para onde vão os Heróis, Said...
- Mamã... onde vão os heróis?
- Isso só Alá sabe...
- Também posso ir ter com o papá?
- Não querido, só quando fores muito velhinho...
- Mas eu quero mesmo ir para o pé do pai... Quero ser um herói como o papá!
- Sim meu querido. És o meu herói. Sahid, não chores. O papá morreu como um verdadeiro herói.
- E posso ser o Homem Aranha?

...

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