Caro jovem Daniel,
De tantas cousas que a vida me deve, meus pais me deram o nome de Osvaldo Sanches.
Muitos dias passaram desde que nasci em Salvaterra d' Extremo e desde essa altura me formei como homem. Meu pai sempre quis uma boa educação para mim, mas nunca houve dinheiro que conseguisse pagar esse ensino. Apenas tenho o nono ano, mas já tenho uma experiencia de vida bastante considerável. Os meus 32 anos me dizem isso. Fui registado a 3 de Outubro de 1978, na altura de grandes reboliços a seguir ao 25 de abril e o unico trabalho que conheço é a lide do campo e dos bois. Devo ser dos últimos em Portugal. Mas meu pai sempre me ensinou isso, mesmo quando chorei sobre a sua campa há 10 anos. Minha mãe morreu nova, quando eu apenas era um bebezinho e pouca memória me ocorre dela, mas meu pai sempre me deu educação para lutar p'la vida.
Hoje escrevo porque na sei quanto tempo vou viver mais. Uma pessoa que está sozinha numa aldeia deserta com um cancro no pulmão não pode fazer mais nada*. E pouco me consigo mais que mexer para te escrever.
Meu corpo há-de resistir e enquanto isso hei-de fazer minha vida quando der.
Deixo-te aqui as minhas coisas para que um dia puderes pegar nelas, fá-lo. Afinal não tenho descendentes e desde que vieste cá não conheço mais do que dez pessoas.
Podes contar a minha história de vida, como sei que queres, e mesmo os meus poemas que pouco têm de correcto mas eu considero que o campo é o melhor da vida.
Um abraço,
Osvaldo Sanches
*Osvaldo morreu no dia 28 de Outubro de 2010 a caminho do Hospital de S.Teutónio - Viseu
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