Faz tres anos que os nossos destinos se cruzaram num bar no centro da cidade. Era entao ela um pouco mais nova como e suposto, desfilando com os olhos, com aqueles grandes olhos, no rodilho da carpete vermelha do centro de uma pista que nao era mais que a fila de duas ou tres pessoas que tentava chegar ao balcao. Captei-a como uma Canon capta a fotografia e gravei-a nesse momento no cartao de memoria. Nao podia perder aquela rapariga.
Os 16 anos da rapariga de cabelos castanhos nao eram distinguiveis ao tacto e na primeira impressao ela pareceu-me mais velha, tirando-me algumas hipoteses de tentar falar com ela, tal rapariga convencida que nao se da com miudos.
Olhei mais um pouco com atençao e reparei que passava agora para o lado de dentro do balcao do Platinum e atendia o homem atarracado que se encontrava ao canto. Nao conhecia aquela rapariga e certamente que ja tinha passado varias vezes por aquele bar. Nao perdia nada. Dirigi-me ao balcao.
Pedi uma cola e a rapariga olhou-me desconfiada mas nao questionou. Talvez ela pensasse que um rapaz daquela idade nao pedisse colas numa noite de diversao, mas se assim pensava estava bem errada a cerca do que eu sou. E cada vez mais quis saber o que aquela rapariga dos cabelos castanhos pensava de mim e ainda mal me conhecia.
As horas passaram e eu deixei-me adormecer na cadeira e ter um sonho com a rapariga dos cabelos castanhos. Durou pouco porque logo fui acordado. Estava sozinho e apenas a rapariga se encontrava. Melhor que o sonho e mesmo a realidade, pensei.
- Hey rapaz, olha ja e tarde e o meu tio ja foi. Fiquei eu a arrumar as coisas, mas vais ter de sair.
-Anh? Simm. Ah pois... Desculpa.
A rapariga achou talvez que a desculpa era sincera e ofereceu-me uma cola para me ir embora ao qual recusei e disse que preferia antes que ela me fizesse companhia a casa. Talvez o sono me tenha levado a tal pergunta, mas agora estava feita. Ela nao se sentiu muito a vontade mas perguntou:
- Onde moras?
A Rua Carmaloggi ficava a um quarteirao e era sensivelmente perto para um curto passeio a pe. A rapariga acedeu, superando as minhas melhores expectativas. Estava ganho a primeira batalha.
O relogio na Torre Fiori marcava as 4 e 50 quando a rapariga dos cabelos castanhos fechou a porta do bar e me conduziu a casa. As perguntas fervilhavam na minha cabeça e tinha que começar por algum lado a desbravar e a clivar o diamante que tinha encontrado.
- Pois... Ah... Entao e como te chamas mesmo?
Ela respondeu-me um nome, mas que nao interessa para o caso porque para mim sera sempre a rapariga dos cabelos castanhos e nada mais faria sentido que lhe chamar isso. Respondi-lhe com o meu nome, mas ela gravou outro. Talvez mesmo o do rapaz de olhos avela, mas isso nunca saberei.
Perguntei-lhe porque trabalhava ela, que idade tinha... enfim! Todas essas coisa que se perguntam nesta situaçao. E nao foi por menos: a rapariga trabalhava porque tinha irmaos mais novos e nao tinha pai. A idade era 16 embora para mim ela parecesse mais velha que eu. Era alguem que a vida tinha pregado uma partida.
Sentamo-nos nas escadas e começamos a falar de coisa que nunca esperara falar com a rapariga dos meus sonhos: economia, finanças, musica e ate desporto. Era impressionante aquela rapariga saber tanto de tantas coisas e a mim so me deixava estarrecido. Era uma perola.
As horas passaram rapido e o frio chegou. Na despedida lembro-me apenas de um abraço que foi o suficiente para eu saber que tinha ali dois braços frageis prontos a serem amparados na mais escura das noites...
E foi assim que descobri a rapariga dos cabelos castanhos.
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