terça-feira, abril 09, 2013

A Rapariga dos Cabelos Castanhos: Sonho


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Tem sido bom definir os temas por músicas, e não só pelo nome do texto. É mais... expressivo.
E que tal a história, não? Tu que estás aí desse lado, já deves pensar que vou contar mais uma história de choro ou felicidade que termina da mesma maneira sobre a rapariga dos cabelos castanhos. Pois não se enganam muito, mas talvez esta seja diferente. É melhor é passar à acção talvez.
Bem vamos começar por outro ponto...


Primeiro é preciso dizer que foi difícil. Não foi logo a primeira, não foi logo à primeira, precisei de tempo, de espaço, de ganhar batalhas. Precisei de ser melhor, fortalecer quem sou, ser forte psicologicamente... Só queria ser eu com as capacidades melhoradas, pronto para fazer alguém feliz.
É claro que esse dia veio! Mas não podemos baixar braços ou a cabeça, nem ficar a chorar dias a fio, a pensar na sorte que não tenho ou naquilo que me falta para ser melhor. Prefiro sorrir, mesmo que o meu sorriso seja triste, eu ganho mais do que cair por terra.
ELA foi uma batalha constante!
 Bah, deprimente não? Eu prometi a história, e por isso aqui vai:



- Pssst...
A rapariga dos cabelos castanhos sorria.
- Tive um sonho.
Curioso como sempre, trepei do beliche para a cama que estava superior.
- Na cama do nosso filho? Deve ser do colchão.
- Não sejas tonto, adormeci aqui...
Sorri. Sei porque adormecera. Peço desculpa, não vos situei na história, porque isto fora meses antes do falecimento dela, por aquele cancro fatal e revoltante que lhe ceifou a vida. Os tratamentos do cancro já estavam a avançar e sabia que de dia para dia se sentia cansada. Adormecera ali a fazer a cama do pequeno, que estava com a avó.
- Então meu anjo, conta lá o teu sonho.
Devolveu-me o sorriso.
- Sonhei que tinha voltado.
Complexo? Estava a falar de quê? Já não estava a perceber... Só, se...
- O que queres dizer com...
Sorriu-me.
- A morte sim. Voltei da morte. Voltei como uma espécie de anjo. Não vos podia tocar é certo, mas podia olha por você e ver-vos. Estavam tão bonitos os nossos filhos...
- Isso não vai acontecer... Tu sabes que não... Não deixarei que isso aconteça... Não quero que vás!!!
- Eu tenho esperança que não, mas consegui conformar-me em parte. Pelo menos aprendi a sorrir.
Estava a chorar como uma criança, abandonada pela sua progenitora no meio da selva, como se ninguém me pudesse salvar. E ela abraçou-me...
- Tem calma. Tens de ser forte, como sei que és e cuidar deles. Fiquei feliz por vos ter visto tão bem, e espero que assim seja e mesmo que não volte que cumpras isso bem!
- Tu não vais...
- Aceita que posso ir pequenino...
- E Deus? Viste-o?
Pausa.
- Não. Mas que mais importa quando o amor que nutro por vocês não pode ser posto em causa por qualquer Deus?
- Sabes que não acredito em tudo o que diz a Biblia... Mas não consigo entender a forma como regressas-te...
- Eu também não, mas isso encheu-me de força e fé para acreditar em algo de bom, mesmo que isto seja só um sonho...
Não aguentava ouvi-la a convencer-se e a entregar-se. Não aguentava vê-la sem cabelo, a sofrer e a lutar como nenhuma outra pessoa. Não aguentava mais isto, os nossos filhos sem perceberem exactamente o que a mãe tinha... Chorei muito nesse dia, mais do que no dia em que ela desceu à terra...
- Não chores. Vou estar aqui - apontando para o coração - e tu vais ser feliz com eles, e mesmo que encontrares alguém, será honrada e a mulher para ti. Aprende a sorrir quando os outros choram e recorda coisas boas... acredita nas pessoas.
- Sabes que não deixarei ninguém entrar na minha vida...
- Sei que tu saberás o que fazer, mas fico feliz por ouvir isso.
Silêncio.
- Às vezes pondero em abrir mão de tudo para...
- Não!! Isso não. Tu és forte, e vais aguentar. Os pequenos precisam de ti e tu deles. Sei que serão tão brilhantes como o pai. Sei que serão a pessoa que eu conheci!
O meu choro cessou e pude sorrir:
- Serão pelo menos corajosos e bonitos como a mãe.
E sorri.

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