A rapariga dos cabelos castanhos passou deslizante sobre as escadas de pinho, curvando-se para nao bater no tecto. As luzes da cave estavam apagadas. O silencio dominava cada canto da secçao da casa, um eco do mundo, um eco do vazio.
O tick-tack do relogio alarmava a dimensao de perda que nesse momento se debatia e o som dos ponteiros indicava as 4 horas da madrugada. Escuro, inerte, vazio.
A rapariga dos cabelos castanhos acendeu o candeeiro de mesa, ao fundo, sobre uma mesa de cabeceira de cama, num sitio errado, num espaço errado, mas no tempo certo. A luz esculpiu as sombras das paredes humidas e cinzentas e engoliu a escuridao. A rapariga dos cabelos castanhos reparou assim no retrato da moldura antiga, no rosto loiro do homem ou rapaz que nessa madrugada lhe parecia mais distante, mais dissolvido no tempo e no espaço, na fome de quem acreditava na sua volta. Mas nao. A rapariga dos cabelos castanhos poisou o retrato na mesinha ao centro e afastou a hipotese. A vida e um ciclo e esse ciclo um dia tem o seu fim. E preciso aceitar o fim.
A rapariga dos cabelos castanhos, que ja nao sao assim tao castanhos, pareceu escutar uma voz. Mas apenas a sombra lhe fazia companhia, o retrato e a tenue mesinha. A noite ia avançada, e a lua agitava-se por entre as nuvens visitando a cave nos intervalos das paredes aos quais damos o nome de janelas. Janelas nao era bem aquilo que se podia chamar aquele pequeno buraco envidraçado que ficava na parte esquerda da divisao mesmo junto ao tecto.
E foi num desses intervalos em que a lua espreitou que a rapariga dos cabelos castanhos sentiu frio. O frio que fazia naquela noite de Julho nao era fisico, mas psicologico. E as lagrimas rolaram sobre o banco de jardim, coisa inapropriada como tudo o resto naquela cave, e cairam sobre a madeira velha e desgastada, sobre o chao duro e de fina camada de poeira que se abatia nos cantos mais reconditos da cave. A chuva era miudinha, mas la fora nao chovia. Os animais tambem nao emitiam qualquer sinal, mas o sussurro da divisao de baixo apagou todas as duvidas.
E nesse instante a rapariga dos cabelos castanhos sentiu um calor inesperado, a certeza que as duvidas e memorias que se caiam sobre ela se dissolviam na penumbra e a segurança de uma voz mais grossa que a sua sussurou baixinho no seu ouvido: Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui.
A rapariga dos cabelos castanhos nao precisou de olhar nem de voltar-se para descobrir quem era. A sua voz era desde algum tempo, presença na sua vida de um olhar de segurança, de um gesto protector.
E o rapaz dos olhos avela apresentou-se como da primeira vez, sorriu-lhe como se fosse a ultima e beijou-a como se a vida fosse apenas e so aquele momento. As lagrimas ja nao rolavam, o frio era substituido pela esperança, e o olhar enchia-se de carinho. As maos cruzaram-se e os olhos viram "para la da linha do horizonte".
E para sempre.
O tick-tack do relogio alarmava a dimensao de perda que nesse momento se debatia e o som dos ponteiros indicava as 4 horas da madrugada. Escuro, inerte, vazio.
A rapariga dos cabelos castanhos acendeu o candeeiro de mesa, ao fundo, sobre uma mesa de cabeceira de cama, num sitio errado, num espaço errado, mas no tempo certo. A luz esculpiu as sombras das paredes humidas e cinzentas e engoliu a escuridao. A rapariga dos cabelos castanhos reparou assim no retrato da moldura antiga, no rosto loiro do homem ou rapaz que nessa madrugada lhe parecia mais distante, mais dissolvido no tempo e no espaço, na fome de quem acreditava na sua volta. Mas nao. A rapariga dos cabelos castanhos poisou o retrato na mesinha ao centro e afastou a hipotese. A vida e um ciclo e esse ciclo um dia tem o seu fim. E preciso aceitar o fim.
A rapariga dos cabelos castanhos, que ja nao sao assim tao castanhos, pareceu escutar uma voz. Mas apenas a sombra lhe fazia companhia, o retrato e a tenue mesinha. A noite ia avançada, e a lua agitava-se por entre as nuvens visitando a cave nos intervalos das paredes aos quais damos o nome de janelas. Janelas nao era bem aquilo que se podia chamar aquele pequeno buraco envidraçado que ficava na parte esquerda da divisao mesmo junto ao tecto.
E foi num desses intervalos em que a lua espreitou que a rapariga dos cabelos castanhos sentiu frio. O frio que fazia naquela noite de Julho nao era fisico, mas psicologico. E as lagrimas rolaram sobre o banco de jardim, coisa inapropriada como tudo o resto naquela cave, e cairam sobre a madeira velha e desgastada, sobre o chao duro e de fina camada de poeira que se abatia nos cantos mais reconditos da cave. A chuva era miudinha, mas la fora nao chovia. Os animais tambem nao emitiam qualquer sinal, mas o sussurro da divisao de baixo apagou todas as duvidas.
E nesse instante a rapariga dos cabelos castanhos sentiu um calor inesperado, a certeza que as duvidas e memorias que se caiam sobre ela se dissolviam na penumbra e a segurança de uma voz mais grossa que a sua sussurou baixinho no seu ouvido: Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui.
A rapariga dos cabelos castanhos nao precisou de olhar nem de voltar-se para descobrir quem era. A sua voz era desde algum tempo, presença na sua vida de um olhar de segurança, de um gesto protector.
E o rapaz dos olhos avela apresentou-se como da primeira vez, sorriu-lhe como se fosse a ultima e beijou-a como se a vida fosse apenas e so aquele momento. As lagrimas ja nao rolavam, o frio era substituido pela esperança, e o olhar enchia-se de carinho. As maos cruzaram-se e os olhos viram "para la da linha do horizonte".
E para sempre.
Sem comentários:
Enviar um comentário