quarta-feira, julho 20, 2011

Cielo Stellato

00h28, Lago Como, Cidade de Lecco, Lombardia, Pensinsula Italica.

Os pequenos fios de agua espelham a imensidao do ceu, com finos pedaços de cristais sobre a onduçao quase nula do Lago Como, reflectindo esses pequenos mundos distantes ao qual chamamos Ceu, distante longiquo da nossa realidade. A cidade descansa da imensa actividade diurna e parece suspirar a paz junto ao grandioso espelho de cristal que nasceu muito antes da propria cidade de chamar Lecco ou o proprio lago florir com o nome Como. Aqui e alem e possivel ouvir sons de jovens ainda divagando pelo vazio das ruas ou saindo e entrando em discotecas e bares numa zona mais afastada. Premoniçoes.
Vidrada e enfeitiçada pelo lago, percorre a rapariga dos cabelos castanhos a margem esquerda, junto a grandes cedros que la cresceram, muitos deles mais antigos que metade daqueles edificios construidos sobre o solo dessa cidade. A noite desceu ha muito e os feitiços das princesas ja se desfaziam havia meia hora, lembrou-se sorrindo da historia que contara nessa noite a irma mais nova, e no qual tinha captado um sorriso acompanhado de uma resposta que eram horas de dormir, trocando o habitual beijo deslizante sobre a testa da pequena. Era sabado e nao era noite para se ficar a olhar pela janela.
A saida servia mais para, por momentos, desfazer-se da realidade, ganhar assas na nova forma de vida, olhar o mundo e sentir. O lago Como era desde sempre o lugar onde vira os primeiros cisnes, brincara a sua primeira vez com as bonecas que o tio Julien lhe tinha oferecido e se sentira uma princesa ao receber o seu primeiro fiozinho de ouro. As coisas simples sao aquelas que nos trazem mais felicidade, quem diria?
A maioridade ja se fazia notar naquela rapariga, que desde cedo se diferenciar de tantas outras pela maturidade que talvez a vida tivesse ensinado. Os olhos da rapariga de cabelos castanhos ja se encontram com algumas olheiras, algumas noites mal dormidas, mas continuam belos. Como de resto ela nos habituou.
A velha cave, essa esta igual, e nao voltaremos la mais, pois se nao "cada lagrima sera uma queda de agua" citando Coldplay, citando o mundo, citando o sentido existencial da vida.
Pois, eu, o rapaz dos olhos cor de avela, ri-se quando acha que atribuindo o nome assim, parecera mais importante. Nem por isso. A vida foi dura com ela, e eu quero que ela sinta que a vida faz sentido talvez comigo e se nao for comigo tenho a certeza que sera com alguem. Lamechas no minimo, mas sentido, porque ate os rapazes de olhos avela dizem coisas destas. E tambem os louros, os morenos, os africanos, os asiaticos. Todos eles gravam a palavra amor, embora poucos a pronuciem.
Eu vejo de novo a rapariga de olhos castanhos em redor do lago onde ja foi tao feliz e saber que todos os feitiços ja foram... Mas sabem que mais? Ela continua a ser magica para mim.
O rapaz da moldura, era o pai que partiu. Acham que e justo a vida assim?
Ouço-a chorar baixinho. As palavras nao querem nada com ela, nao fala, nao me diz o que se passa e eu? Eu observo ao longe, ansioso para que tudo acabe e o sonho se dissolva na tunica branca que traz vestida, por sinal muito bonita. Tenho de fazer alguma coisa...
Sento-me ao lado dela, ela deixa de chorar. Faz-se de forte comigo, talvez porque comigo ela nunca queira mostrar a sua parte mais sensivel, a sua parte mais fraca, a parte que diz que tambem e uma pessoa que sofre, tambem e uma pessoa que chora e se emociona e nao a dureza das pedras que transmite.
O abraço surge quase como automatico e ela mais uma vez larga as lagrimas. Ganho finalmente coragem para lhe falar e digo-lhe: Nem sempre temos um ceu tao estrelado como hoje.
Ela nao me responde, apenas rolam mais umas lagrimas. Eu nao consigo saber o que dizer, o que fazer, mas sei, porem que, nada melhor sera que dar-lhe atençao, dar-lhe carinho. Beijo-a na testa e os problemas que a atormentam dissolvem-se mais uma vez. Ela sabe... Eu sei que ela sabe.
O silencio e total, quebrado esporadicamente por um grito de uma ave ou de um cisne como esses que dao asas aos contos de banda desenhada, as historias encantadas de princesas e dragoes, de principes e de reis que nao saiem do livro. A vida real nao e isso.
A Fix you toca no meu telemovel e ouvimos a noite inteira os cd's dos Coldplay, os temas dos The Script e sussuramos segredos um ao outro. O ceu esta estrelado e as noite e longa... Ela sabe.

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