Ninguém ouve o vazio do silêncio na noite que corre porque é o vazio que se destingue de tudo o resto, e o resto, esse, é deveras subjectivo. É o vazio que percorre o céu. É o vazio que avança pelo mar. É o vazio que rouba as almas. É o vazio subjectivo se o resto for concreto. Ou vice-versa?
Rasgos da intensidade, meras palavras do vazio que escrevo, do vazio, esse, residual na minha cabeça, residual na nossa projecção de relação, na nossa intimidade que é sobretudo ela, vazia, ou no máximo, reduzida. Reduzida, melhor que vazio. Prespectivas optimistas do mundo ouvem-se com a palavra reduzida. Nada tem sequência no que escrevo, porque o que escrevo, apesar de coerente reflecte a minha cabeça e o meu coração: pedaços de nada, e sobretudo, vazio. Porque eu não sei, e a dúvida é cada vez maior. Mas aperta cá dentro, onde no fundo no fundo, não sei se haverá algo, talvez... Vazio.
Arrumamos em gavetas recordações do que fomos, e talvez, até do que não fomos. Somos a ignorância de seres, somos a prespicácia do contingente terreno que nos deu inteligência. Nem vale a pena entrar por aí. Porque a nossa inteligencia leva-nos, ou pelo menos está a levar-nos para o vazio. Nem meio cheio, nem meio vazio. Vazio de inteligência. Cheio só da ignorância.
Apetece-me não escrever correctamente (José Saramago?), mas ainda consigo ter consideração por alguma alma, essa talvez não-vazia leia o que escrevo. Se o que escrevo é tão vago, tão vazio de coisas e cheias de nada, e se pouco sentido faz ou pouca coêrencia têm, a mim isso não me importa.
O estado de latência, resulta da conservação da caixa do Nada, do vazio que enche os cantos da casa, e ouço, sobretudo, esse silêncio ensurtecedor da noite. Eu não sei. Doido. É talvez loucura sim. Podes-me chamar louco que não levo a mal. Porque dentro do meu cérebro e do meu coração só ouço o ruído visceral do vazio.
Mataram os pássaros num abismo, dinamitaram a Lua e afogaram os peixes. Abismo. Sabemos a depressão em que nos encontramos. Esta psicose e metamorfose mental que nos transforma.
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Rouba-me 3 segundos. Porque aos pássaros, já não podes salvá-los, e eu ainda tenho uma mão no socalco, prestes a deslizar, por esse abismo imenso. Vazio: Chama-me em redor de mim.
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