Mesmo à beira do Mondego, da margem direita em relação ao mar da Figueira, ergue-se imponente, como um castelo, a Universidade e as suas faculdades. Chamam-lhe Coimbra, já se chamou Aeminium, a rainha das universidades, a cidade dos estudantes.
Sim! Sempre, sempre em volta das capas negras e das batinas, que rodam em torno desta cidade, que vive deles, dos estudantes, que apelida cada uma das suas culturas associados à colectividade que prevalece, a AAC, anos e anos a fio, como o centro do conhecimento em Portugal.
Talvez agora já não seja, pois o Porto e Lisboa suplantaram em número os estudantes que aí estudam, mas em magia não. E isto basta confirmar vindo a Coimbra em período de férias estudantis, um verdadeiro deserto, nada comparável à alegria dos estudantes, às praxes académicas e à vida nocturna que a cidade tem. Porque até poderá ter os piores bares, mas os estudantes é que fazem as noites.
A Magia de uma cidade resume-se por exemplo à Serenata Monumental e à Balada da Despedida, de onde surgiu a famosa frase do encanto de Coimbra. Para um estudante é impossível não sentir um verdadeiro arrepio e uma nostalgia quando ela toca na Sé Velha ou na Associação antes de fechar. Podíamos resumir tudo a momentos, mas quem vive cá sabe o que é ser estudante de Coimbra, sabe o que é ser diferente das outras cidades, porque quer queiramos quer não, aqui é a verdadeira Praxis, o verdadeiro Fado, as repúblicas, as guitarras, os cortejos, as tradições, a capa e a batina, as Escadas Monumentais, as faculdades, a Cabra, os pátios, o Botânico, a Praça, a AAC, a nossa Briosa, o verdadeiro espírito, um verdadeiro centro da organização estudantil que já fez tanto pela história do país (e tantas coisas mais!!)
E agora, claro, estamos em período de festa, onde dias e dias a fio, estudantes de Coimbra e de muitas partes do país vem até à Queima, ali bem perto em Santa Clara. Mas a Queima é só uma festa, onde nos divertimos e onde podemos recordar momentos. É por isso que o cartaz acaba por ser ligeiramente indiferente, porque vamos lá estar de qualquer maneira.
Acaba por isso um ciclo, a primeira vez que os caloiros passam a ser vistos como iguais, e por isso um traje que significa mais que tudo a igualdade entre todos os estudantes. E cada ano tem além disso diferentes tradições desde o grelo, ao carro e à cartola. Já para não falar de outras tantas na Latada e Imposição de Insígnias.
A nostalgia é grande neste momento, porque todos recordamos o que foi um ano (ou mais um!) de praxe, de novos conhecimentos, novas amizades, novas alegrias, tristezas e resumimos tudo a este momento, em que olhamos para aqueles que entraram em Outubro e nos orgulhamos de todo o seu percurso e lhes traçamos a capa merecidamente.
Por último falo ainda de um tema central e sempre polémico: a Praxe.
"Dura Praxis, sed Praxis" - A praxe é dura, mas é a praxe.
Muitas vezes somos assaltados por notícias ridículas de abusos na Praxes: caloiros agredidos, entradas nos hospitais e mesmo mortes. Não isto não é praxe.
Praxe é sobretudo integração. Ajudar um grupo a cruzar-se entre si, fortalecer a união de uma turma e também entre o resto do curso. Praxe é brincadeira, diversão. Também é encher, em conjunto e em solidariedade, mas apenas para que o erro de um seja exemplo para todos, para que possam esforçar-se para errar o menos possível e perceberem que são um grupo que precisa de entre-ajudar-se. Praxe é perceberem o orgulho e o esforço que precisam de fazer para serem estudantes de Coimbra e envergarem o traje. Praxe é fazerem rir os doutores e divertirem-se. Praxe é soltar a sua personalidade e não deixar de ser igual a si próprio. Praxe é conhecer-se a si mesmo. Praxe também é desafiar os doutores, sem no entanto faltar ao respeito. Praxe é perceber que a vida é mesmo assim: rimos, brincamos, choramos, enchemos mesmo quando parece injusto, porque na vida vai haver muito sapo a engolir e muita gente nos vai rebaixar.
Praxe é por isso, preparação para a vida. Uma preparação que o ensino não dá, mas nós fazemos questão de a ensinar. E é muito mais fácil ser caloiro, porque é o melhor ano.
A Coimbra, à Praxe, às tradições.
"Capa Negra de saudade
No Momento da Partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'rá vida!"
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