sexta-feira, julho 29, 2011

Saudade.

Combinamos palavras na inequivoca esperança de um regresso, de uma frase solta, de um grito que nao amplificamos ao mundo. Esperamos eternamente por volta a esse tempo, mas nada mais resta que uma palavra portuguesa, tao portuguesa como o Fado, ou serao estas duas uma so?
Interrogo-me e escrevo o que se passa no mundo, o que pode ser um futuro ou que acontecimentos passados se verificaram mas se escrevemos e porque a nossa alma tem um processo cognitivo de continua aprendizagem, no qual a memoria tem um significado propenso que auxilia nesta demanda. E na memoria que guardamos a saudade, que exultamos e por vezes ate demais, damos um novo brilho e toque pessoal de algo.
A saudade provem de coisas boas disso acho que podemos estar todos de acordo. Podemos recordar momentos tragicos e marcantes mas eles nao derivam da saudade que tambem temos. "Por favor, abraça-me", acabo de ouvir a expressao na televisao, mas a saudade trouxe-me a expressao para outros campos: a memoria de outros abraços, de outros beijos e sobretudo do que nao disse.
E as vezes arrependemo-nos tanto do que ja poderiamos ter dito... E acentua-se mais quando vemos que alguem esta longe. Fisicamente ou Espiritualmente.
Temos todos de ganhar coragem. Temos todos de deixar de ser-mos Seres humanos para passarmos a ser pessoas! Custa muitas vezes, mas tera de ser.
Saudade e assim a marca do passado no nosso presente.

domingo, julho 24, 2011

Sometimes your smile is a Waterfall

I turn the music up...
Caminho devagar, a camisola encharcada da chuva miudinha que cai sobre a manha do Lago Como. Loucura em vir correr tao cedo, mas sobretudo um teste fisico a resistencia e um alimento para o corpo e para a mente: Saude.
O ipod deslizava sobre a bolsa pequena que trazia sobre o pescoço a descer na diagonal do tronco contendo aquilo que necessario era. A musica estava mais alta porque eu a quis por mais alta. Parecia que a ouvia cantar outra vez como na noite passada, mas nao ha nenhum Chris Martin, nenhuma Amy Winehouse nem qualquer outro que substitua a voz dela. O amor e cego, mas tambem e meio surdo e quantas vezes tambem nao e mudo?
I got my records on...
Mais e mais discos que tenho na estante, ao chegar a casa, ponho a tocar. O velho radio ainda le cd's apesar de mal apanhar as frequencias. E ai, I shut the world outside until the lights come on, e isolo-me do mundo, porque o mundo e um lugar cruel no qual somos postos.
And I feel my heart start beating to my favourite song, essa musica que nao e musica mas sim, o eterno regresso de dias felizes, de noites passadas, de sorrisos rasgados por entre lagrimas. E uma batida assim miudinha, uma viola e pouco mais que fazem esta magia, provando que nao e preciso muito para algo acontecer. And all the kids they dance!
E por isso ouço vezes sem conta cantar a rapariga dos cabelos castanhos, e sempre que ela se cruza comigo na vida a musica regressa com ela. Desde ontem que ouvi-la cantar no bar do tio me enche nao so de sorrisos como de orgulho.
Nao se deixem no entanto enganar pela voz dela, porque o sorriso da rapariga dos cabelos castanhos por muito belo que seja, nao e sempre feliz. As vezes esconde outros sentimentos, que eu ja começo a conhecer, mas duvido que voces saibam. Tambem porque nao a veem, eu sei, mas mesmo que a vissem. Ela e especial essa tal rapariga.
Ansioso espero sempre que ela rasgue o sorriso nas lagrimas e me conte tudo ao luar, como sempre o faz, fingindo estar tudo bem, fingindo estar contente, fingindo que From underneath the rubble, sing a rebel song que a alegra nesta mistura de ingles com portugues.
Porque por mais que ela queira, ela nao e essa "Cathedral" de pedra que tudo resiste, la no fundo eu sei e digo-lhe sempre que "it's allright" e a vida continua, cheia de esperança que melhore. Melhorou substancialmente desde que a conheci, e fica a esperança que ela ache o mesmo. Nao sei exactamente a definiçao de namorar, mas se me perguntarem se ando com ela eu respondo "As we soar walls, Every siren is a symphony"
E ela continua cuidando dos irmaos, fazendo o trabalho dela para ganhar o seu. E sei o esforço que faz! Sei mesmo, tanto que vou começar a trabalhar tambem para a ajudar, para pelo menos dar um auxilio. E se ela nao quiser aceitar, nem que eu tenha de enviar o dinheiro como segurança social, ou qualquer coisa do genero. Porque a rapariga dos Cabelos castanhos e teimosa, mas tem azar porque eu sou mais. E por tras daquele sorriso...
"Every teardrop is a waterfall"

sexta-feira, julho 22, 2011

De que cor sao feitos os sonhos?

O reflexo do lago faz-me confusao nos olhos e os pedaços de sal bailam-me sobre a vista. Sobre o lago, a imagem da rapariga dos cabelos castanhos faz-me regressar ao passado e os grossos pingos rolam pelo meu rosto de incompreensao e frustraçao. Nao queria nada discutir com ela, mas foi mais forte e as duvidas levaram-no a essa calamidade.
- Nao tens que ficar assim.
Quem falaria? Nao era possivel que ela o tenha seguido. As raparigas eram orgulhosas, raramente nos perseguem (talvez aquelas que nao tem um palmo de testa), mas sobretudo o facto de ela me ver chorar tornou-me mais embaraçado. Ela porem nao pareceu estranhar, pois os "homens nao choram". Mentiras, e claro que a rapariga dos cabelos castanhos nao acreditava nisso e ela propria tinha ido atras de mim. Se ainda nao acreditava que ela era diferente ai estava uma prova, e isso fez com que eu ainda me encolhesse mais.
- Mas... nao compreendo... Porque e que aquele tipo te obrigou a dar dinheiro? Porque e que tu aceitas-te sem mais nem menos?
- Ele e um cobrador. O meu pai devia-lhe.
Agora fazia mais sentido. Mas porque e que ela nao tinha dito isso mais cedo?
- Nao te disse porque como sabes ele morreu e... bem o meu pai morreu porque apanhou uma infecçao.
Infecçao? Que seria aquilo?
- O meu pai morreu de Sindrome de Imunodeficiencia Adquirida, aquilo a que tu e muitos chamam SIDA. Ele... ele...injectava-se... eu tinha treze anos... e eu... eu tentei... eu juro que tentei... mas ja era tarde... ele ja ha muito que estava fragilizado... eu juro que tentei... eu juro!
Finalmente o castelo desmoronou-se e as verdadeiras razoes da rapariga dos cabelos castanhos eram mais fortes e eu merecedor dessa confiança quando tinha questionado e chateado por uma ninharia, por um problema que era tao mais grave para ela e me deixava numa posiçao desconfortavel. Abracei-a mais uma vez porque ja se vira que os abraços sao o reconforto de uma alma angustiada e beijei-a. Senti nela um tremer, um gosto a sal misturado com o perfume que ela propria continha e mais que um beijo foi a certeza que ali estava. Ela precisava de tudo, e eu queria fazer tudo por ela.
- Eu... eu...
- Tu nao sabias, nem tinhas dever nenhum de o saber. Agora sabes porque es a pessoa em quem mais confio. E se um dia os meus sonhos premitirem quero que fiques comigo.
Era forte, tal como o monte que esculpia uma das margens do Lago Como, e nesse momento me parecia bem mais facil de trepar de que os problemas. Eu queria trabalhar, queria fazer alguma coisa para ajudar a rapariga dos cabelos castanhos, a minha rapariga dos cabelos castanhos, porque eu sabia que apenas podia ser minha, se o mundo tinha-me dado tao grande dadiva como alguem assim. Eu sabia que era o momento e nada mais fazia sentido do que ajuda-la.
- Nunca te abandonarei.
A palavra era certa e a noite tratou de a consolidar, de novo junto daquele lago tao unico como ela, a rapariga dos cabelos castanhos que agora apenas pertencia a mim. Tinha a certeza agora que ia dar tudo por tudo por ela e para a ajudar. Ela merecia mais do que a vida lhe dava, do empenho que cuidava dos irmaos, do afinco que trabalhava...
- Um dia vou saber de que cor sao feitos os teus sonhos
- Tenho a certeza que descobriras.
E sorriu.

quinta-feira, julho 21, 2011

Review

Faz tres anos que os nossos destinos se cruzaram num bar no centro da cidade. Era entao ela um pouco mais nova como e suposto, desfilando com os olhos, com aqueles grandes olhos, no rodilho da carpete vermelha do centro de uma pista que nao era mais que a fila de duas ou tres pessoas que tentava chegar ao balcao. Captei-a como uma Canon capta a fotografia e gravei-a nesse momento no cartao de memoria. Nao podia perder aquela rapariga.
Os 16 anos da rapariga de cabelos castanhos nao eram distinguiveis ao tacto e na primeira impressao ela pareceu-me mais velha, tirando-me algumas hipoteses de tentar falar com ela, tal rapariga convencida que nao se da com miudos.
Olhei mais um pouco com atençao e reparei que passava agora para o lado de dentro do balcao do Platinum e atendia o homem atarracado que se encontrava ao canto. Nao conhecia aquela rapariga e certamente que ja tinha passado varias vezes por aquele bar. Nao perdia nada. Dirigi-me ao balcao.
Pedi uma cola e a rapariga olhou-me desconfiada mas nao questionou. Talvez ela pensasse que um rapaz daquela idade nao pedisse colas numa noite de diversao, mas se assim pensava estava bem errada a cerca do que eu sou. E cada vez mais quis saber o que aquela rapariga dos cabelos castanhos pensava de mim e ainda mal me conhecia.
As horas passaram e eu deixei-me adormecer na cadeira e ter um sonho com a rapariga dos cabelos castanhos. Durou pouco porque logo fui acordado. Estava sozinho e apenas a rapariga se encontrava. Melhor que o sonho e mesmo a realidade, pensei.
- Hey rapaz, olha ja e tarde e o meu tio ja foi. Fiquei eu a arrumar as coisas, mas vais ter de sair.
-Anh? Simm. Ah pois... Desculpa.
A rapariga achou talvez que a desculpa era sincera e ofereceu-me uma cola para me ir embora ao qual recusei e disse que preferia antes que ela me fizesse companhia a casa. Talvez o sono me tenha levado a tal pergunta, mas agora estava feita. Ela nao se sentiu muito a vontade mas perguntou:
- Onde moras?
A Rua Carmaloggi ficava a um quarteirao e era sensivelmente perto para um curto passeio a pe. A rapariga acedeu, superando as minhas melhores expectativas. Estava ganho a primeira batalha.
O relogio na Torre Fiori marcava as 4 e 50 quando a rapariga dos cabelos castanhos fechou a porta do bar e me conduziu a casa. As perguntas fervilhavam na minha cabeça e tinha que começar por algum lado a desbravar e a clivar o diamante que tinha encontrado.
- Pois... Ah... Entao e como te chamas mesmo?
Ela respondeu-me um nome, mas que nao interessa para o caso porque para mim sera sempre a rapariga dos cabelos castanhos e nada mais faria sentido que lhe chamar isso. Respondi-lhe com o meu nome, mas ela gravou outro. Talvez mesmo o do rapaz de olhos avela, mas isso nunca saberei.
Perguntei-lhe porque trabalhava ela, que idade tinha... enfim! Todas essas coisa que se perguntam nesta situaçao. E nao foi por menos: a rapariga trabalhava porque tinha irmaos mais novos e nao tinha pai. A idade era 16 embora para mim ela parecesse mais velha que eu. Era alguem que a vida tinha pregado uma partida.
Sentamo-nos nas escadas e começamos a falar de coisa que nunca esperara falar com a rapariga dos meus sonhos: economia, finanças, musica e ate desporto. Era impressionante aquela rapariga saber tanto de tantas coisas e a mim so me deixava estarrecido. Era uma perola.
As horas passaram rapido e o frio chegou. Na despedida lembro-me apenas de um abraço que foi o suficiente para eu saber que tinha ali dois braços frageis prontos a serem amparados na mais escura das noites...
E foi assim que descobri a rapariga dos cabelos castanhos.

quarta-feira, julho 20, 2011

Cielo Stellato

00h28, Lago Como, Cidade de Lecco, Lombardia, Pensinsula Italica.

Os pequenos fios de agua espelham a imensidao do ceu, com finos pedaços de cristais sobre a onduçao quase nula do Lago Como, reflectindo esses pequenos mundos distantes ao qual chamamos Ceu, distante longiquo da nossa realidade. A cidade descansa da imensa actividade diurna e parece suspirar a paz junto ao grandioso espelho de cristal que nasceu muito antes da propria cidade de chamar Lecco ou o proprio lago florir com o nome Como. Aqui e alem e possivel ouvir sons de jovens ainda divagando pelo vazio das ruas ou saindo e entrando em discotecas e bares numa zona mais afastada. Premoniçoes.
Vidrada e enfeitiçada pelo lago, percorre a rapariga dos cabelos castanhos a margem esquerda, junto a grandes cedros que la cresceram, muitos deles mais antigos que metade daqueles edificios construidos sobre o solo dessa cidade. A noite desceu ha muito e os feitiços das princesas ja se desfaziam havia meia hora, lembrou-se sorrindo da historia que contara nessa noite a irma mais nova, e no qual tinha captado um sorriso acompanhado de uma resposta que eram horas de dormir, trocando o habitual beijo deslizante sobre a testa da pequena. Era sabado e nao era noite para se ficar a olhar pela janela.
A saida servia mais para, por momentos, desfazer-se da realidade, ganhar assas na nova forma de vida, olhar o mundo e sentir. O lago Como era desde sempre o lugar onde vira os primeiros cisnes, brincara a sua primeira vez com as bonecas que o tio Julien lhe tinha oferecido e se sentira uma princesa ao receber o seu primeiro fiozinho de ouro. As coisas simples sao aquelas que nos trazem mais felicidade, quem diria?
A maioridade ja se fazia notar naquela rapariga, que desde cedo se diferenciar de tantas outras pela maturidade que talvez a vida tivesse ensinado. Os olhos da rapariga de cabelos castanhos ja se encontram com algumas olheiras, algumas noites mal dormidas, mas continuam belos. Como de resto ela nos habituou.
A velha cave, essa esta igual, e nao voltaremos la mais, pois se nao "cada lagrima sera uma queda de agua" citando Coldplay, citando o mundo, citando o sentido existencial da vida.
Pois, eu, o rapaz dos olhos cor de avela, ri-se quando acha que atribuindo o nome assim, parecera mais importante. Nem por isso. A vida foi dura com ela, e eu quero que ela sinta que a vida faz sentido talvez comigo e se nao for comigo tenho a certeza que sera com alguem. Lamechas no minimo, mas sentido, porque ate os rapazes de olhos avela dizem coisas destas. E tambem os louros, os morenos, os africanos, os asiaticos. Todos eles gravam a palavra amor, embora poucos a pronuciem.
Eu vejo de novo a rapariga de olhos castanhos em redor do lago onde ja foi tao feliz e saber que todos os feitiços ja foram... Mas sabem que mais? Ela continua a ser magica para mim.
O rapaz da moldura, era o pai que partiu. Acham que e justo a vida assim?
Ouço-a chorar baixinho. As palavras nao querem nada com ela, nao fala, nao me diz o que se passa e eu? Eu observo ao longe, ansioso para que tudo acabe e o sonho se dissolva na tunica branca que traz vestida, por sinal muito bonita. Tenho de fazer alguma coisa...
Sento-me ao lado dela, ela deixa de chorar. Faz-se de forte comigo, talvez porque comigo ela nunca queira mostrar a sua parte mais sensivel, a sua parte mais fraca, a parte que diz que tambem e uma pessoa que sofre, tambem e uma pessoa que chora e se emociona e nao a dureza das pedras que transmite.
O abraço surge quase como automatico e ela mais uma vez larga as lagrimas. Ganho finalmente coragem para lhe falar e digo-lhe: Nem sempre temos um ceu tao estrelado como hoje.
Ela nao me responde, apenas rolam mais umas lagrimas. Eu nao consigo saber o que dizer, o que fazer, mas sei, porem que, nada melhor sera que dar-lhe atençao, dar-lhe carinho. Beijo-a na testa e os problemas que a atormentam dissolvem-se mais uma vez. Ela sabe... Eu sei que ela sabe.
O silencio e total, quebrado esporadicamente por um grito de uma ave ou de um cisne como esses que dao asas aos contos de banda desenhada, as historias encantadas de princesas e dragoes, de principes e de reis que nao saiem do livro. A vida real nao e isso.
A Fix you toca no meu telemovel e ouvimos a noite inteira os cd's dos Coldplay, os temas dos The Script e sussuramos segredos um ao outro. O ceu esta estrelado e as noite e longa... Ela sabe.

quinta-feira, julho 14, 2011

Para la da linha do Horizonte...

A rapariga dos cabelos castanhos passou deslizante sobre as escadas de pinho, curvando-se para nao bater no tecto. As luzes da cave estavam apagadas. O silencio dominava cada canto da secçao da casa, um eco do mundo, um eco do vazio.
O tick-tack do relogio alarmava a dimensao de perda que nesse momento se debatia e o som dos ponteiros indicava as 4 horas da madrugada. Escuro, inerte, vazio.
A rapariga dos cabelos castanhos acendeu o candeeiro de mesa, ao fundo, sobre uma mesa de cabeceira de cama, num sitio errado, num espaço errado, mas no tempo certo. A luz esculpiu as sombras das paredes humidas e cinzentas e engoliu a escuridao. A rapariga dos cabelos castanhos reparou assim no retrato da moldura antiga, no rosto loiro do homem ou rapaz que nessa madrugada lhe parecia mais distante, mais dissolvido no tempo e no espaço, na fome de quem acreditava na sua volta. Mas nao. A rapariga dos cabelos castanhos poisou o retrato na mesinha ao centro e afastou a hipotese. A vida e um ciclo e esse ciclo um dia tem o seu fim. E preciso aceitar o fim.
A rapariga dos cabelos castanhos, que ja nao sao assim tao castanhos, pareceu escutar uma voz. Mas apenas a sombra lhe fazia companhia, o retrato e a tenue mesinha. A noite ia avançada, e a lua agitava-se por entre as nuvens visitando a cave nos intervalos das paredes aos quais damos o nome de janelas. Janelas nao era bem aquilo que se podia chamar aquele pequeno buraco envidraçado que ficava na parte esquerda da divisao mesmo junto ao tecto.
E foi num desses intervalos em que a lua espreitou que a rapariga dos cabelos castanhos sentiu frio. O frio que fazia naquela noite de Julho nao era fisico, mas psicologico. E as lagrimas rolaram sobre o banco de jardim, coisa inapropriada como tudo o resto naquela cave, e cairam sobre a madeira velha e desgastada, sobre o chao duro e de fina camada de poeira que se abatia nos cantos mais reconditos da cave. A chuva era miudinha, mas la fora nao chovia. Os animais tambem nao emitiam qualquer sinal, mas o sussurro da divisao de baixo apagou todas as duvidas.
E nesse instante a rapariga dos cabelos castanhos sentiu um calor inesperado, a certeza que as duvidas e memorias que se caiam sobre ela se dissolviam na penumbra e a segurança de uma voz mais grossa que a sua sussurou baixinho no seu ouvido: Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui.
A rapariga dos cabelos castanhos nao precisou de olhar nem de voltar-se para descobrir quem era. A sua voz era desde algum tempo, presença na sua vida de um olhar de segurança, de um gesto protector.
E o rapaz dos olhos avela apresentou-se como da primeira vez, sorriu-lhe como se fosse a ultima e beijou-a como se a vida fosse apenas e so aquele momento. As lagrimas ja nao rolavam, o frio era substituido pela esperança, e o olhar enchia-se de carinho. As maos cruzaram-se e os olhos viram "para la da linha do horizonte".
E para sempre.