domingo, fevereiro 09, 2014

Um "E" que parece ser de Estatística


Jovem, tens ambições de entrar no Ensino Superior mas ainda não concluíste o 12º Ano? Acabaste já o 11º ano e procuras uma maneira de entrar sem exames? É fácil: o Ministério da Educação e da Ciência dá-te a possibilidade de obter um curso de nível 5 com equivalência ao 12º ano e parecido com as licenciaturas. E, claro, poderás concluí-lo em apenas 2 anos com a possibilidade de te serem concedidas equivalências no Instituto Politécnico que frequentas, através de um Concurso Especial, criado especialmente para o efeito.
“...o Ministério da Educação e da Ciência dá-te a possibilidade de obter um curso de nível 5 com equivalência ao 12º ano e parecido com as licenciaturas”
José Mourinho voltou a Inglaterra no ano em que Crato decidiu também ser “Especial”. A sua profunda tentativa de atribuir Concursos Especiais de Acesso a tudo o que são possíveis futuros alunos do Ensino Superior não fica nada atrás das estratégias do “Special One”. Vai-se esquecendo é que as vagas especiais têm um teto máximo, ou seja, apenas uma baixa percentagem de alunos é que poderá aceder por meio destes concursos…
Depois da tinta que vai correndo sobre ondas gigantes, praxes mirabolantes e outra atrações que o senhor ministro e o governo nos vão proporcionando, eis que surge um assunto verdadeiramente importante para os Politécnicos do País. No entanto, a tutela prefere chamar os alunos e os institutos de educação para discutir praxe.
Apregoando que “luta por um Ensino cada vez melhor”, o governo dirige-se agora para a total descredibilização do Ensino Superior Politécnico que, para além dos cursos acima referidos, pretende que cursos profissionais possam ser dados em conjunto com os próprios politécnicos (entrevista à Antena 1 a 18/01/14), dando a entender que pretende, entre vários objetivos, preencher horários de professores com pouco tempo letivo, criar cursos para dar impulso a determinadas regiões e, também, pela falta de quadros de nível 5 no país.
“...as associações empresariais de vários pontos do país (…) não precisam destes cursos.”
É bonito tudo isto, não é? Não fosse um absoluto estado caótico de objetivos irreais. Os cursos possíveis que o Ministério pretende adotar não têm qualquer estudo de mercado; as associações empresariais de vários pontos do país (por exemplo, de todo o Norte de Portugal) afirmaram, após o Instituto Politécnico do Porto as ter auscultado, que não precisam destes cursos.
E por falar em trabalho: caso uma empresa possa contratar pessoas com um grau mais baixo (que tenham frequentado estes cursos) em vez de licenciados a quem, por norma, têm de pagar mais, qual será a opção da empresa, ainda mais num momento de crise que nós vivemos? Parece simples, não parece? E nós vamos deixar que isto aconteça?
“...caso uma empresa possa contratar pessoas com um grau mais baixo (…) em vez de licenciados a quem, por norma, têm de pagar mais, qual será a opção da empresa (…)?”
Além disto, parecem ser evidentes dois interesses inerentes aos politécnicos: o de captar alunos (por cada aluno, o estado atribui um valor) e o fator estatístico (este mais do interesse da tutela) que se resume ao aumento do número de licenciados no Ensino Superior.
Num contexto em que o Ensino Superior Politécnico compete por ministrar Doutoramentos ditos “Profissionalizantes”, a ideia de integrar estes “short cycles” (que tem um nome pomposo e parecido ao atribuído aos licenciados) e dos Cursos de caráter Profissional, vai assim contribuir para uma descredibilização do Ensino Superior Politécnico, que mais uma vez nos deixa a nós, estudantes que pertencemos a este quadro, num profundo sentimento de incapacidade por não termos uma opinião audível. 
É por isso que Crato tem sido anunciado como o próximo gestor de marketing de várias cadeias de Supermercados, porque consegue, além de dar “promoções”, uma subida incrível no número dos “lucros”. É dececionante que as pessoas olhem para Cristiano Ronaldo como um ídolo e esqueçam o nosso Ministro da Educação e da Ciência, que tem uma performance incrivelmente melhor que o CR7!
Mas o que me parece incrível é que, num país como Portugal, o Ensino seja feito com base em estatísticas e o que realmente interessa é poder aumentar o número de licenciados, para depois a Dona Merkel, ou qualquer outra personalidade do contexto europeu, nos possa dar uma palmadinha nas costas e um sorriso amarelo como quem diz: “Portaste-te bem”. E estes cursos? Têm “cheirinho” a fundos Europeus.
Estamos assim, a lutar e a debater na FNAEESP (Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico) estas ideias, uns mais a favor e outros mais discordantes, mas com a certeza que não somos mais que um órgão consultivo do Ministério.
E também esperamos sinceramente que Nuno Crato volte aos treinos, porque com tanta bola ao lado, não há clube que aguente! 



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